Vivem-se tempos de mudança e há perigos à espreita em todos os cantos do reino. O domínio filipino tem-se tornado cada vez mais pesados e os descontentes são cada vez mais e mais determinados. E é com eles que se cruza o caminho de João Bocarro, cristão-novo que, em terras de Espanha, estabelece, quase por coincidência, os primeiros contactos que o levarão a assumir um papel de destaque na conjura. João não é um homem de grandes ambições - espera apenas voltar, casar com a mulher que ama desde criança e fazer o que puder pelo seu povo. Mas o reencontro com um velho rival traz consequências imprevistas. E o que eram, até então, motivos patrióticos ganham contornos de vingança pessoal. Vingança essa que poderá ter de esperar, mas não será esquecida.
Situado em plena conjura para a restauração da independência, este é um livro em que um dos primeiros pontos a chamar a atenção é a forma como o autor conjuga a história pessoal do seu protagonista com um contexto global em que é vasta a teia das forças em movimento. João é, de facto, o protagonista e a sua história - desde o regresso a Lisboa aos derradeiros actos da sua vingança - parece ser o cerne de grande parte do enredo. Mas outras figuras emergem e o contexto em que se movem (bem como o que de facto os move) acabam por ganhar também especial relevância.
Ora, este equilíbrio implica um grande ponto forte e um pequeno ponto fraco. O ponto forte é que torna a história muito mais vasta, permitindo, ao mesmo tempo que se acompanha o percurso de João, conhecer outras figuras relevantes, assimilar partes importantes do contexto histórico e ver, enfim, a conjura a ganhar vida. O ponto fraco é que, com tanto para explorar, há algumas coisas que parecem acontecer demasiado depressa, deixando uma leve impressão de curiosidade insatisfeita (principalmente no que diz respeito a Isabel, por um lado, e às movimentações de Miguel de Vasconcelos, pelo outro).
É verdade que ficam algumas perguntas sem resposta e espaços no enredo que poderiam ter sido mais desenvolvidos. Ainda assim, não se perde assim tanto na envolvência no enredo. Para isso contribui também o estilo de escrita, que, apesar de bastante descritivo, nunca deixa de cativar e que, nalguns dos momentos mais intensos, ganha uma profundidade tão surpreendente que as cenas - e imagens mentais do protagonista, nalguns casos - quase se tornam visíveis.
A impressão que fica é, pois, a de um livro que é, ao mesmo tempo, a jornada pessoal de um protagonista e uma viagem através da História, numa narrativa em que ambas as facetas se vão cruzando num equilíbrio delicado e envolvente. Uma boa história, portanto, e uma boa leitura.
Título: Os Conjurados de 1640
Autor: Charles-Philippe d’Orléans
Origem: Recebido para crítica
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