sábado, 30 de setembro de 2017

Milarepa (Eric-Emmanuel Schmitt)

Uma mulher misteriosa num café de Paris, diz, com palavras enigmáticas, que Simão viveu mil vidas - e que o ódio do passado o obriga a contar repetidamente a mesma história até que o ciclo se quebre. Pois, em tempos, ele foi Svastika e combateu um iluminado - e foi o seu ódio pelo sobrinho, Milarepa, que o levou a grandes crimes e, depois, à iluminação. Esta é a história cem mil vezes repetida - e a mensagem de um caminho maior que o ódio.
Bastante breve e narrado de forma muito simples, este é um livro em que tudo se resume em poucas palavras. Poucas, mas talvez as suficientes, pois a ideia do caminho de Milarepa - do desejo de vingança ao desprendimento total - está bem patente na sua história, por mais sucintamente que esta seja contada. É certo que esta brevidade deixa sentimentos ambíguos, pois, por um lado, fica a sensação de que muito mais haveria a dizer sobre cada um dos acontecimentos narrados. Mas, por outro, ao cingir-se ao essencial, sobressai a mensagem - e talvez seja precisamente esse o objectivo.
É curioso também como, em apenas setenta páginas, há tantas vidas cruzadas. Tantas, de facto, que ficam umas quantas perguntas sem resposta, a começar pela identidade da mulher misteriosa. Mas a verdade é que todas as figuras servem o seu objectivo: a mulher misteriosa é um despertar para o passado. E, no passado, os caminhos de Svastika e de Milarepa, com todas as escolhas erradas e posteriores arrependimentos, traçam um caminho mais amplo do que apenas o das suas histórias individuais.
No fundo, a história cede protagonismo à mensagem, daí que o registo simples e sucinto faça sentido. Mais que as vivências, conta a aprendizagem e, no que a essa diz respeito, o percurso de Milarepa dificilmente poderia ser mais claro. Fica, é verdade, a curiosidade insatisfeita - a vontade de ver mais de perto, de sentir ao pormenor. Mas o essencial está lá, e é isso o mais importante.
E assim, a impressão que fica é a de uma leitura breve, mas em que as perguntas sem resposta perdem importância face à mensagem subjacente a toda a história. História de conhecimento e iluminação, um conto simples, mas cativante. Uma boa leitura. 

Título: Milarepa
Autor: Eric-Emmanuel Schmitt
Origem: Recebido para crítica

Sem comentários:

Enviar um comentário