Considerado o país mais fechado do mundo, embora frequentemente referido nas notícias devido aos focos de tensão e aos avanços e recuos ao nível da política externa, a Coreia do Norte é um país acessível aos olhos de muito poucos. E mesmo aqueles que têm a oportunidade de o visitar vêem-se limitados naquilo que lhes é permitido ver. Este livro traça o relato de uma viagem improvável, sobretudo por estar associada à produção de um programa, mas que permite ficar com uma visão bem diferente do chamado Reino Eremita.
Uma das primeiras coisas a chamar a atenção ao primeiro contacto com este livro é a abundância de fotografias. Particularmente relevantes tendo em conta que não se trata propriamente de um destino turístico de massas, permitem, desde logo, ficar com uma ideia visual bastante clara do que é a Coreia do Norte, não só em termos de monumentos, mas sobretudo de paisagens. Além disso, as fotografias não se cingem aos cenários, mostrando também os rostos de algumas das pessoas com quem o autor se cruzou. Isto é particularmente interessante se tivermos em conta que, ao longo de todo o texto, é realçado o facto de todos os contactos necessitarem de obter algum tipo de aprovação.
Esta expressividade visual tem também o dom de complementar na perfeição um texto cujo registo é não só bastante sucinto como também bastante pessoal. Chama-se Diário da Coreia do Norte e é, acima de tudo, disso que se trata: das percepções do autor ao longo do percurso, dos processos da gravação, das peripécias mais particulares da viagem e das impressões pessoais que vai formando. Não há, pois, longas descrições, ainda que surjam quando necessário - e esta percepção pessoal aproxima-nos mais do papel do viajante.
Fica ainda uma impressão curiosa, pois, desde o início ao fim do percurso, é frequentemente realçado o facto de haver um controlo do que é visto e filmado. É, por isso, particularmente notável que, apesar das restrições, o autor descreva a criação de uma relação de descontracção e proximidade com os seus guias. Além disso, o capítulo final dedicado à viagem de reconhecimento permite entender uma definição de limites que é bastante menos rígida do que se poderia imaginar.
A impressão que fica é, pois, a de uma viagem surpreendente aberta - ainda que com os seus limites, naturalmente - a um país que é conhecido por ser fechado. Uma viagem de trabalho, mas cheia de percepções pessoais, e que permite ficar com uma imagem bastante nítida de um local muito difícil de se visitar. Vale a pena fazer esta viagem - ainda que apenas nas páginas deste livro.
Título: Diário da Coreia do Norte
Autor: Michael Palin
Origem: Recebido para crítica
Não se conheces o Dentro do Segredo do José Luís Peixoto, também é sobre a Coreia do Norte. Eu gostei muito, porque como estudei Línguas e Culturas Orientais, acabo sempre por ter muita curiosidade sobre este país. Boas leituras!
ResponderEliminarAinda não li, mas já está na lista. Depois deste livro, fiquei com muita vontade de ler mais sobre o país. :)
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