Covid-19. Dispensa apresentações, não é verdade? Até porque é um nome que está em toda a parte. Mas, mais do que a propagação da doença, os mecanismos de contágio ou até a evolução científica em termos de medidas de combate e prevenção deste infame vírus, é sobre o impacto psicológico, social e - porque não? - filosófico que este pequeno ensaio se debruça. Que outro tipo de consequências pode ter - além das físicas, entenda-se - um vírus que confinou um mundo inteiro? E que tipo de questões se colocam quando certas liberdades são suspensas?
Algo que desde cedo se torna evidente é que este é um livro que desperta ambiguidades. Ao questionar o medo e o confinamento, revela perspectivas que acabam necessariamente por ser também questionadas. O confinamento implicou suspender liberdades? Foi glorificado para alguns enquanto, para outros, era simplesmente impossível? Causou medos profundos em contraste com optimismos irritantes? Tudo isso pode ser possível, mas é difícil não ficar, inicialmente, com uma sensação de desvalorização. Felizmente, isto vai-se esbatendo com o desenvolver do ensaio, que, sem nunca perder por completo as ambiguidades (até porque tende mais para as perguntas do que para as respostas), vai mostrando mais uma faceta de matéria para reflexão, em que questionar não é - embora inicialmente pudesse parecer - necessariamente invalidar.
Mais do que a visão individual do autor, o que fica no pensamento são sobretudo as questões. Podemos não concordar com quem vê o medo como exagerado ou achar que essa ideia de ver o confinamento como uma "oportunidade" é apenas uma forma tão válida como qualquer outra de lidar com uma situação desagradável. Mas a perspectiva do autor tem o dom de nos fazer reflectir e questionar. Afinal, é verdade que nem todos puderam ficar em casa. É verdade que todas as outras notícias desapareceram subitamente face ao coronavírus. É verdade que "vai ficar tudo bem" é mais optimismo do que certeza. Se chegaremos às mesmas conclusões do autor? Sim ou não. De qualquer modo, é importante a reflexão.
Um último ponto que importa salientar é a fluidez da escrita. Reflexiva, filosófica, mas pautada por rasgos de surpreendente beleza, foge à glorificação do confinamento glorificando outro tipo de imagens. E, ainda assim, lê-se com uma envolvência notável, ao ponto de, mesmo quando são as discordâncias que sobressaem, ficar na memória a expressividade das palavras.
Breve, mas repleto de questões pertinentes, ambíguo, mas cheio de material para reflexão, trata-se, pois, de um livro que, mais do que grandes respostas, salienta a importância de questionar. E que, mesmo sem concordâncias absolutas, acrescenta uma nova perspectiva à forma como lidamos com este estranho vírus que parou o mundo.
Título: Este Vírus que nos Enlouquece
Autor: Bernard-Henri Lévy
Origem: Recebido para crítica
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