domingo, 11 de julho de 2021

A Minha Irmã é uma Serial Killer (Oyinkan Braithwaite)

Korede é enfermeira. Tem como missão cuidar das pessoas nos seus momentos mais vulneráveis. E também a irmã mais velha de Ayoola e sempre lhe foi incutido que a sua missão era proteger a irmã, principalmente tendo em conta o passado de ambos. Ayoola é tudo o que Korede não é: bela, irresistivelmente atraente, impulsiva, extrovertida. E tem um segredo sombrio, do qual Korede é cúmplice. Já matou vários dos homens com quem se envolveu. Korede está habituada a proteger a irmã, a ajudá-la a ocultar os crimes. Mas agora o olhar de Ayoola voltou-se para alguém que lhe é muito querido. E talvez seja tempo de tomar uma decisão definitiva sobre quem é e que posição quer assumir.
Uma das primeiras coisas que importa dizer sobre este livro é que, apesar de envolver uma assassina em série, está muito longe de ser um policial. É muitas outras coisas: uma história de irmãs, uma visão de conflito entre tradição e modernidade, uma história de trauma e das suas consequências e até uma história de amor não correspondido. E, sim, também é uma história de crime, mas construída de uma forma tão diferente que, mesmo tendo em conta esses elementos, não são de todo o mistério e o crime a predominar.
É também uma história bastante singular, não só pelas particularidades do enredo, mas sobretudo pelo percurso pessoal das várias personagens e pela moralidade algo ambígua que as move. Ayoola, tendo em conta o seu historial, dificilmente poderá ser vista como uma personagem benigna, mas Korede, enquanto narradora, mostra-a em tempos mais inocentes, o que acaba por despertar alguma empatia. Já Korede parece seguir o percurso contrário, pois a empatia inicial face às suas circunstâncias vai dando lugar a algo mais complexo à medida que o enredo progride.
A ambiguidade não se cinge à moral das personagens. É uma história narrada na primeira pessoa, em capítulos relativamente curtos e com uma perspetiva inevitavelmente parcial, o que significa que ficam inevitáveis sentimentos ambíguos acerca de certos desenvolvimentos. Não deixa, ainda assim, de ser uma ambiguidade curiosamente adequada. Confrontada com uma escolha impossível, Korede encontra o caminho possível. Dividida entre o que é e o que pode ser, opta pela decisão mais realista. E, tendo em conta a forma como tudo termina, é também esta ambiguidade que faz com que as possibilidades fiquem no pensamento mesmo depois de terminada a leitura.
Singular e cativante, leve no registo, mas surpreendentemente complexo na perspetiva moral, trata-se de um livro ambíguo no sentido mais positivo do termo. E que leva o seu tempo a assimilar, mas acaba por se entranhar na memória com as suas estranhas e fascinantes circunstâncias.

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