Dizem que o coração tem razões que a razão desconhece. E, apesar de tudo, quando sente, persiste nos sentimentos. Apesar dos desentendimentos, das incompatibilidades, da passagem do tempo, da vida, dos obstáculos, das ilusões. Apesar de tudo, persiste. E, quando escolhe, se escolhe, persiste também nessa escolha. É esse o caso do que une os corações de Ana e de Zeno, uma vida inteira de contactos dispersos e um amor que persiste... apesar de tudo. Ela, a mulher dedicada a modernizar a sua cidade, ele, a provar que o tempo pode voltar para trás. E será que não pode mesmo?
Com uma história simples e, ainda assim, cheia de emoção, é na sua estrutura invulgar que este livro tem o primeiro de vários pontos marcantes. Basta abri-lo e encontrar um capítulo 20 logo no início para perceber que esta história não vai ter um rumo linear. Mas tendo em conta a missão de Zeno - e será que o tempo pode realmente voltar para trás? - esta linha cronológica faz todo o sentido. Além disso, tendo em conta o tema central - os longos desencontros do amor - não podia ajustar-se mais esta viagem ao passado.
Outro aspeto notável, mas agora em termos visuais, é a imensa expressividade dos rostos. Claro que todo o livro é visualmente bonito, a começar desde logo pelos cenários, com o seu marcante contraste entre os locais por onde as personagens deambulam, e sem esquecer o movimento que, às vezes, diz mais do que todas as palavras. Mas é a expressão dos rostos - seja melancólica, expectante, irónica ou até um pouco travessa - que mais fica na memória. Até porque o amor que une estas duas personagens parece transbordar-lhes das expressões.
Quanto à história propriamente dita, fica uma impressão curiosa: é que é tanto o impacto do que é dito como o do que fica por dizer. A história é feita de momentos no tempo - e do tempo que passa, claro - o que significa que, de cada um desses retalhos, há aspetos apenas aflorados. E, ainda assim, não é uma sensação de curiosidade insatisfeita, mas mais como que de um equilíbrio entre o que passa e o que fica na memória ao longo do tempo. O que fica connosco para sempre.
Relativamente simples, mas transbordante de amor e de vida, trata-se, pois, de uma leitura relativamente leve, mas memorável em todos os seus aspetos. Uma história de amor e de tempo e de como nunca é tarde para encontrar o que faltava.
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