Na sua profissão de astrobiólogo, Theo Byrne está habituado a formular teorias complexas sobre a possibilidade de existir vida noutros planetas. Mas os problemas que o assombram estão bem mais perto do que isso. Viúvo e a ter de lidar com a sua própria perda, Theo tem também de encontrar uma forma de lidar com o filho. Robin, de nove anos, é uma criança diferente, que vê o mundo como mais ninguém vê, mas que tem também grandes dificuldades em controlar as suas emoções. E, após alguns incidentes, Theo está a ser pressionado a deixar que o seu filho seja medicado, mas ele quer encontrar uma alternativa. Será possível encontrar uma forma de domar a mente brilhante de Robin sem apagar quem ele é? E valerá a pena experimentar algo sem resultados provados, mas que os pode levar a ambos para mais perto do que amam? Uma coisa é certa: Theo não tem muito a perder. E talvez Robin tenha tudo a ganhar.
Tudo neste livro é absurdamente prodigioso - basta isto para o descrever, na verdade. Da escrita à estrutura, passando pelos desenvolvimentos da própria história e pelos paralelismos evidentes - e certamente aterradores - com a nossa realidade, sem esquecer a profundíssima emoção que transborda até dos mais inesperados momentos, tudo neste livro é simplesmente prodigioso. Beleza pura. Emoção pura. E pura devastação.
E, tendo isto em conta, talvez seja bom salientar que Assombro é basicamente o título perfeito para esta história, porque, se olharmos bem, toda ela gira em torno dos vários motivos que a vida nos dá para o espanto. A mistura de inocência, brilhantismo e dor de Robin lembra-nos que há perdas que não se ultrapassam, que todos travamos as nossas batalhas interiores, que ser diferente não é ser inconsciente e que tudo na vida tem um preço. A posição devastadora de Theo lembra-nos as alturas na vida em que nos sentimos impotentes, o desconcerto ante aquilo de que o mundo é capaz e o assombro ante a beleza inesperada das coisas mais simples. E o caminho percorrido por ambos... bem, esse leva-nos de assombro em assombro, nas palavras, nas memórias, no confronto com o absurdo do mundo e no infinito inefável da imaginação.
E a própria escrita realça tudo isto, com o seu equilíbrio entre episódios curtos, mas de uma complexidade profunda, com a sua voz singular, mas absurdamente certeira, com a profusão de frases memoráveis que brotam de onde menos se espera e com a forma como cada presença e cada pensamento parecem repercutir um mundo mais próximo do nosso do que parece confortável.
Termino com uma repetição, porque tudo neste livro é realmente prodigioso. Prodigioso e devastador na sua intensidade emocional e na forma como conjuga beleza e angústia, esperança e desespero, assombro ante o esplendor da vida e assombro ante a capacidade para a crueldade do ser humano. Tudo é brilhante neste livro. Tudo é inesquecível.
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