Duas estudantes de direito recebem do seu mentor um conjunto de correspondência alegadamente associado a um possível caso. E nada mais. Nem um contexto prévio, nem qualquer ligação aos possíveis crimes envolvidos ou a mais ínfima informação sobre os envolvidos. Porquê? Porque Roderick Tanner acredita que é essa a melhor forma de gerar uma nova perspetiva sobre o caso - e talvez descobrir o que falta para repor a verdade. É neste cenário que a história começa a desenrolar-se, com a correspondência a revelar relações, personalidades, sombras de tragédia e de mistério. Há um grupo de teatro, uma criança gravemente doente e uma angariação de fundos para um tratamento experimental. E há também muitas mentiras. Tantas que a revelação da verdade pode ser fatal.
Parte do que torna este livro tão viciante - e oh, se é viciante - é a sua estrutura singular. Todo ele é composto por documentos: transcrições de interrogatórios, trocas de mensagens, listas, um ou outro bilhete e muitos, muitos e-mails. E nada mais. É a partir desta abundante correspondência que a história e os seus enigmas vão sendo revelados, que as reviravoltas ganham forma, que as múltiplas facetas das personagens se manifestam. E acompanhar esta teia irresistivelmente complexa facilmente se torna absurdamente viciante.
Parte do que torna este livro tão viciante - e oh, se é viciante - é a sua estrutura singular. Todo ele é composto por documentos: transcrições de interrogatórios, trocas de mensagens, listas, um ou outro bilhete e muitos, muitos e-mails. E nada mais. É a partir desta abundante correspondência que a história e os seus enigmas vão sendo revelados, que as reviravoltas ganham forma, que as múltiplas facetas das personagens se manifestam. E acompanhar esta teia irresistivelmente complexa facilmente se torna absurdamente viciante.
Outro aspeto particularmente forte prende-se com o equilíbrio entre a leveza da leitura, resultante em grande medida do registo epistolar, e a abundância de temas pesados que a envolvem. Sim, o cerne da história pode estar na descoberta do responsável por um crime, mas há muito mais para além disso. Há o espírito de comunidade, explorado na mobilização em auxílio de uma criança doente, e a forma como esse espírito pode assumir contornos mais ambíguos, na forma de encobrimentos e de rumores. Há o motivo que levou uma das personagens a regressar de África, com um tema particularmente pesado associado a algumas das suas revelações. Há questões de doença mental, visões sobre o funcionamento da justiça e um tipo de intriga que mexe inevitavelmente com as emoções, pois gira em torno da confiança das pessoas. E assim, a história é leve, mas não simples, e tem mais complexidades além do seu mistério central.
Mas, claro, é um mistério. E quanto a esse aspeto, sobressaem duas coisas: a sucessão alucinante de reviravoltas que vai ganhando forma ao longo da correspondência. E as revelações finais, que, além de inesperadas, ganham uma intensidade maior devido à sensação de proximidade anteriormente gerada em relação às personagens. Tal como na vida real, também aqui julgamos conhecer as pessoas. Mas nunca por completo. Nunca.
Viciante, intenso e carregadinho de surpresas, este é um livro em que tudo é singular, desde a estrutura às personagens, sem esquecer a sucessão de revelações. E é isso que o torna tão memorável: que tudo encaixa nos sítios certos, nas medidas certas, para dar forma a uma viagem absolutamente imprevisível. Muito, muito bom.
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