No dia do seu casamento com D. Pedro havia já uma voz que gritava a tragédia no seu futuro. "A rainha vai morta!" Mas Estefânia não tinha razões para acreditar naquela voz sempre presente. Catorze meses depois, face a face com a morte iminente, a rainha recorda os anos da sua breve vida, o caminho que a moldou para ser rainha de Portugal e os valores que a tornaram no modelo da soberana ideal aos olhos de Pedro. Esta é a história de Estefânia, rainha, mulher e anjo, amada e admirada, e lamentada na hora de uma morte que veio cedo demais.
Narrada na primeira pessoa e tendo como ponto central os últimos momentos, esta história marca desde logo pela forma como a autora tenta mostrar, acima de tudo, o lado humano de D. Estefânia. Sem descurar acções, planos ou valores, são, ainda assim, as dúvidas, as convicções e os afectos o que mais se evidencia na descrição das últimas horas da rainha e, a partir destas, das memórias da sua vida. Memórias estas que, numa primeira fase, parecem ter muitos factos a apresentar, o que lhes confere um tom algo distante, mas que crescem em proximidade e empatia à medida que tanto a figura da rainha como o cenário e a sociedade em que se move se tornam mais familiares, dando às suas experiências e dilemas pessoais um maior destaque.
Ainda que seja um livro relativamente breve, há, nesta história, uma boa medida de contextualização para assimilar e, portanto, muitos detalhes interessantes a nível histórico. Isto faz com que o ritmo da narrativa seja relativamente lento, já que os pormenores e as muitas ligações entre famílias e personagens são um elemento bastante desenvolvido ao longo do enredo. Mesmo assim, não se perde a envolvência e, à medida que os segredos e as relações se tornam mais próximas e pessoais, a história torna-se não só interessante pelo contexto histórico, mas também pela figura humana da rainha e é, ainda e sempre esta humanidade, feita tanto das fraquezas e dos medos como dos grandes princípios e da firmeza dos afectos, o que marca na construção desta história.
Trata-se, portanto, de uma obra que, não sendo de leitura compulsiva, apresenta uma sólida base de caracterização da época e das personagens, bem como um enredo que se torna progressivamente mais cativante, à medida que a figura de D. Estefânia se torna mais próxima com o revelar de todo o seu verdadeiro carisma. Uma boa leitura.
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