segunda-feira, 10 de setembro de 2012

Ave de Mau Agoiro (Camilla Läckberg)

Uma mulher morre na sequência de um acidente de viação, devido a condução com excesso de álcool no sangue, o que, aparentemente, não parece ser razão para uma investigação muito profunda. Mas Patrik Hedström suspeita de que o que tem em mãos é muito mais que um simples acidente. Primeiro, há algo na cena do acidente que lhe deixa a impressão de algo lhe estar a escapar. E, depois, a família de Marit não hesita em afirmar que esta não tocava numa única gota de álcool. A situação é estranha. Entretanto, uma outra morte chama a atenção dos meios de comunicação, pois a vítima é precisamente uma das participantes do reality show a ser filmado em Tanumshede. A equipa de Patrik vê-se, assim, com duas investigações complicadas para gerir, bem como a agitação das respectivas vidas pessoais e a chegada de um novo membro à equipa. E, como se não bastasse, o casamento de Patrik aproxima-se e ele não consegue encontrar sequer tempo para participar nos preparativos.
Tal como nos volumes anteriores desta série, um dos elementos que sobressai é a forma precisa e realista como a autora retrata as peculiaridades da vida em meios pequenos. Neste livro, os preconceitos para com as relações entre pessoas do mesmo sexo (no caso da história de Marit) e a agitação e o caos, bem como a relação do público aos reality shows (no caso de Barbie) são novos elementos que vêm complementar a já bastante vasta visão do ambiente em que decorre o enredo, aproveitando ainda para reflectir sobre algumas questões relevantes. Além disso, este cenário bem caracterizado - quer a nível de lugares, quer de mentalidades - contribui para uma maior facilidade em imaginar os modos e os motivos de tudo o que está a acontecer.
No que diz respeito aos crimes, porque são eles, afinal, o centro da narrativa, não é particularmente difícil seguir as pistas e adivinhar quem é o responsável. Ainda assim, esse conhecimento não prejudica a envolvência do enredo, já que, entre as razões para esses crimes, o que os liga e os passos dados pelos investigadores no sentido de encontrar uma resposta, há, mesmo sabendo já a identidade do culpado, muito de interessante para acompanhar. Além disso, pode não haver surpresas na identificação dos criminosos, mas há-as na forma como as duas investigações se relacionam e na história por detrás do motivo para os crimes.
Mas nem só da investigação vive a história e é esse, também, um dos grandes pontos fortes desta série. Para lá da resolução dos casos, a autora acompanha também a vida pessoal das suas personagens, e não apenas a de Patrik e Erica, mas também a das figuras que, de forma mais discreta, com eles se relacionam. E, ao dar a conhecer este lado mais íntimo das personagens, a autora torna-as mais humanas e mais próximas do leitor. Até porque também nesse aspecto do enredo - da vida pessoal dos protagonistas, mas também de Mellberg e Anna, por exemplo - há uma história envolvente para acompanhar.
Menos surpreendente, talvez, que o volume anterior, mas igualmente cativante, Ave de Mau Agoiro apresenta, para o seu núcleo de personagens carismáticas e já familiares, mais que simplesmente um novo enigma para resolver. O resultado é uma história onde a resolução do mistério tem um papel fundamental, mas onde muitos outros aspectos contribuem para a tornar mais completa e sempre um pouco mais interessante. Muito bom.

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