Da primeira vez que se cruzou com Aeneas McIntosh, o que despertou entre ambos foi tudo menos empatia. A situação fora constrangedora e um pouco humilhante e as circunstâncias eram delicadas. Mas, alguns anos depois, e depois de Aeneas ser escolhido para chefe do clã, os seus caminhos voltam a cruzar-se e, quando ele lhe propõe casamento, Anne acaba por aceitar, por impulso, sem saber ao certo porquê. Ainda assim, a união entre ambos está longe de ser um percurso de felicidade. Devido a dívidas do seu território, Aeneas vê-se obrigado a levar um grupo de homens para servir as forças da União. E quando a revolta começa e ele decide não interferir, é Anne quem toma o comando, liderando os homens para o lado da batalha onde julga que devem estar. Quase sem querer, Anne torna-se uma lenda e, afastada de Aeneas pela escolha de campo e por alguns mal-entendidos, encontra conforto nos braços de outro homem, de um que sempre a amou. Mas, apesar das vitórias conquistadas, o príncipe que segue não é tão sensato como seria de esperar... E o rumo dos acontecimentos pode mudar a qualquer instante.
Há algo de fascinante no período histórico das revoltas jacobitas, culminando na quase lendária batalha de Culloden. E, tendo essa época como fundo para a sua história, este livro tem, desde logo, como uma das suas grandes forças o retrato preciso e cativante do conflito. Retrato que a autora constrói, de facto, de uma perspectiva muito própria, deixando para segundo plano os movimentos globais das forças em oposição para representar através das suas personagens o impacto pessoal de cada vitória, de cada plano e de cada morte.
Ainda que a história se centre na ligação entre Aeneas e Anne, e, em menor medida, na presença de McGillivray como terceiro vértice de um estranho triângulo amoroso, não são as suas relações o que mais marca neste livro. Têm, é certo, os seus episódios marcantes, e a força do que os une, apesar de todas as dificuldades, faz com que os grandes momentos - as perdas e as desilusões, mas também os gestos de conforto e as alegrias possíveis - tenham um fortíssimo impacto emocional. Mas, mais que a ligação entre os três, é o que une cada um deles à guerra que travam e às pessoas que os acompanham o que realmente dá força à história. E isto evidencia-se em Anne de forma particularmente marcante, já que, tanto nos momentos em que sai vitoriosa como, na fase mais avançada do livro, depois de Culloden e com as consequências de tudo sobre os ombros, Anne age mais em função dos outros do que si própria, primeiro pela fé na causa, depois, pela remissão possível da culpa sentida. Tal como Aeneas, de resto, nessa fase final.
Há, na relação entre os protagonistas, uma certa medida de estranheza. O orgulho de ambos e a capacidade de perpetuar ideias erradas fazem com que alguns dos seus conflitos pareçam um pouco exagerados, principalmente se se considerar o contexto em que decorrem. Ainda assim, a empatia dos melhores momentos compensa estas situações mais forçadas, o que, aliado a um contexto histórico e a uma muito interessante visão do papel das mulheres (com o fortíssimo contraste entre o lado escocês e o lado inglês), preserva a envolvência do enredo.
Trata-se, portanto, de uma história cativante, com várias personagens carismáticas (ainda que, no caso dos protagonistas, haja também algumas situações mais estranhas a definir as suas personalidades) e um retrato muito bem conseguido da época histórica em que decorre a acção. Marcante pelos momentos mais emotivos e pelo retrato preciso de um conflito que é tanto entre homens como entre mentalidades, fica, deste A Rosa Rebelde, a impressão global de uma leitura agradável, com uma boa história e algumas situações particularmente marcantes. Vale a pena ler.
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