Carrie McClelland, autora de romances históricos, está de visita à sua agente em Peterhead, quando o instinto a leva a desviar-se do caminho. Ao ver pela primeira vez o castelo de Slains, Carrie descobre que algo a prende aí e a inspiração, que se tem revelado pouco cooperante, desperta subitamente. Mas a história que Carrie tem para contar não é a que planeava e, à medida que a vida de Sophia, a sua protagonista, nasce sobre as suas palavras, a pesquisa de Carrie leva-a também a descobrir que o que julga fruto da sua imaginação tem, afinal, muito de verdade. É possível que a história de amor de Sophia seja bem mais real do que parece e que algo dela tenha passado para Carrie, através dos tempos. E talvez a alegria e a dor de Sophia estejam também ali para dar forma a um novo romance capaz de unir as linhas que o passado separou.
Com duas épocas diferentes e duas histórias diferentes para o mesmo lugar, este é um livro que conjuga os aspectos mais cativantes do romance histórico e do contemporâneo. Não é, pois, surpreendente, que todo o livro seja uma história de contrastes e semelhanças entre as vidas das duas protagonistas.
De um lado, está a história de Sophia em pleno século XVIII. História de um amor que é imperioso manter em segredo, situado num contexto delicado e com uma base contextual sólida. A autora desenvolve com todo o detalhe necessário, mas gradualmente e sem sacrificar a envolvência do enredo, todos os elementos que dizem respeito aos hábitos da época (e até às diferenças de costumes em diversos lugares), à tentativa de invasão de 1708 e aos conflitos de interesses associados a essa tentativa. E fá-lo tendo como centro o ponto de vista de uma jovem mulher com tanto de inocência como de força, com tanto de coragem como de vulnerabilidade. E uma história pessoal rica em perdas e em conquistas, em júbilo e em sofrimento. É fácil criar empatia para com Sophia e o seu Moray, o que contribui também para o impacto emocional dos grandes momentos do enredo. Mesmo se, por vezes, o que esta história tem de mais comovente se encontra em simples palavras e pequenos gestos.
Do outro lado, há Carrie. E, se o livro se divide entre a história dela e a de Sophia, é certo que o percurso de Carrie surge de forma bastante mais discreta, talvez por não haver nele tantos momentos de grande mudança, mas antes uma revelação mais gradual de quem é, do que quer e do que pode ser. A história de Carrie é bastante mais simples, e o seu romance bem menos atribulado. Também ela, tem assim, os seus momentos de mudança, sendo os pontos fortes da sua história a forma como interage com a consciência crescente de que está a reviver memórias que não são suas, a forma serena, mas com todos os momentos de emoção necessários, como a relação com Graham nasce e evolui, e a expressão da sua relação com a escrita. Carrie tem, também, muito em comum com Sophia, tal como Moray é, em certos aspectos, semelhante a Graham. E são essas semelhanças, aliadas à relação entre as personagens das duas épocas, que torna a ligação entre as duas histórias praticamente perfeita.
A diferenciar as duas histórias e os dois tempos em que decorrem está também a forma como a narrativa é construída. Carrie conta a sua parte da história na primeira pessoa, e a de Sophia, que corresponde ao seu livro, na terceira. O tom é também mais leve na história de Carrie, em parte devido às circunstâncias, mas também devido à caracterização feita para aquilo que decorre no passado. É fácil, por isso, distinguir as semelhanças e as diferenças entre as duas mulheres e as suas histórias. E é também esta diferença de tom, a forma como a voz de Carrie é diferente para si mesma e para a sua protagonista, que realça a conjugação das duas histórias, como dois elos diferentes, mas que se completam no que têm de melhor.
Envolvente desde as primeiras páginas e com o equilíbrio ideal entre a leveza dos acontecimentos simples e o impacto das circunstâncias mais difíceis, O Segredo de Sophia conjuga emoção e romance, alegria e tragédia, passado e presente, numa história cativante e comovente, com um cenário e contexto histórico claros e fascinantes e, principalmente, um conjunto de personagens carismáticas como figuras centrais. Marcante, belíssimo e muito bem escrito, é, pois, um livro que fica na memória. Maravilhoso.
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