sexta-feira, 22 de fevereiro de 2013

As Estátuas (Mosath)

Cenários sombrios - e, por vezes, evocando cataclismos - em contraste com uma realidade boémia e decadente: são estes os traços gerais do ambiente em que se constroem os poemas deste livro. Poemas que têm em comum um estilo de escrita elaborado e feito de imagens complexas, que contrastam com a simplicidade quase crua de ocasionais episódios que pretendem evocar. O resultado é um conjunto que, não sendo propriamente uma leitura fácil, exerce ainda assim um estranho fascínio.
Considerando os poemas deste livro como um todo, há dois estilos e dois temas que se distinguem. de um lado, estão os mais elaborados, mais longos, tendo por base temas de uma índole mais sombria e uma evocação de cenários e imagens mais completas. Destes, destaca-se o impacto dessas imagens, sobressaindo o ambiente quase apocalíptico dos poemas reunidos sob o título A Alma da Tempestade.  Do outro, estão poemas mais breves, de linguagem mais directa e com uma temática mais associada à tal vida boémia, com laivos de erotismo e uma crueza que parece pretender chocar. Distinguem-se, portanto, dois rumos diferentes, nos quais é possível reconhecer os traços de um mesmo estilo de escrita - com imagens inesperadas e uma estrutura relativamente livre, apesar do frequente recurso à rima - , mas cujo impacto é completamente diferente. 
Destes dois rumos divergentes, mas que se complementam, fica também a impressão de constituírem duas faces de uma mesma moeda. Assim, e se os poemas mais longos e mais sombrios parecem ter um fascínio diferente, também o choque e a crueza dos mais simples acaba por exercer um estranho fascínio, complementando com a sua brevidade o tom mais divagativo dos primeiros.
Vários dos poemas são relativamente longos, o que, associado ao estilo algo elaborado, exige atenção constante para não perder de vista o encadeamento de algumas das ideias, bem como os detalhes que as completam. É, ainda assim, nestes poemas - com a excepção, talvez, dos constituintes de A Alma da Tempestade, que, considerados como poemas individuais, são relativamente curtos - que se encontram algumas das imagens mais interessantes, sendo que é nestes que o equilíbrio entre a sensibilidade individual e a percepção do mundo é mais aprofundado.
Tendo em conta tudo isto, a impressão que fica deste livro é a de uma obra que, apesar da relativa brevidade, tem muito de bom para revelar. Sombrio, por vezes inesperado, e, com todas as suas elaborações, estranhamente fascinante, trata-se, pois, de um livro muito interessante. Gostei.

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