Santiago Lebrón é um jovem como tantos outros, até que, após a morte de um colega de trabalho, lhe é oferecida uma estranha posição no jornal. A sua responsabilidade é, além da elaboração de palavras cruzadas, escrever uma coluna dedicada ao oculto. Mas essa coluna implica um segundo emprego, de informador do Ministério do Oculto, e os interesses desta entidade - e de um dos seus protegidos - prendem-se com um grupo peculiar. Designados como antiquari, são indivíduos que não morrem senão pela violência, que conseguem aparentar, perante outros, o aspecto de pessoas que já morreram e que são vítimas de uma sede primordial que não conseguem controlar. Santiago terá de se aproximar destes estranhos seres. E, talvez, tornar-se um deles, para os compreender. Ou talvez nem assim seja possível.
Parte do que primeiro chama a atenção neste livro é o facto de ser uma recriação do mito do vampirismo, mas uma recriação completamente diferente do expectável. Primeiro, porque as características dos antiquari, mesmo sem um afastamento total da ideia geral do vampiro, têm vários traços divergentes. Mas também, e principalmente, porque a história não gira tanto em volta do que as personagens são, mas de quem são. O elemento sobrenatural é uma presença efectiva, mas que não afasta as complexidades humanas das personagens. Na verdade, muitos dos problemas dos antiquari - o isolamento, a exclusão, a ligação obsessiva ao passado - poderiam ser transpostas para muitas pessoas do mundo real.
Inevitável é também referir a escrita, fluída e de uma aparente simplicidade, que surpreende revelando metáforas belíssimas e reflexões muitíssimo bem conseguidas, reflectindo bem as complexidades do protagonista e do mundo em que se move. As palavras surgem sem grandes elaborações, mas com um toque de poesia, dando ao fluir da narrativa um tom, por vezes, introspectivo que contrasta com o choque dos acontecimentos mais sombrios.
De referir, por último, uma certa ambiguidade na explicação dos acontecimentos - e, particularmente, na natureza e nos segredos dos antiquari. Sobre estes estranhos seres, muito fica por dizer, mas se é certo que, terminada a leitura, fica uma certa curiosidade no ar quanto ao que eram e ao que fizeram, essas questões deixadas em aberto acabam por tornar a história um pouco mais real, como se, tal como na realidade, houvesse mais histórias e segredos para as personagens, para lá da conclusão. Isto, mesmo tendo em conta que as últimas frases insinuam um rumo futuro para o que é deixado por contar.
Este é, pois, um livro envolvente, marcante na sua fusão entre real e sobrenatural, e com uma escrita que, bela e aparentemente simples, cria para a história um muito interessante ambiente de mistério e nostalgia. Muito bom, em suma.
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