Filha ilegítima de um conde, Sophie Beckett viveu durante anos como suposta protegida do pai, ignorada durante a maior parte do tempo, mas sem que nenhuma das suas necessidades ficasse por atender. Mas com a morte do conde, Sophie ficou à mercê da madrasta, que a reduziu ao papel de criada - ou de quase escrava. Agora, o único sonho de Sophie que pode ainda ser realizado está na entrada num baile de máscaras, para viver, durante uma noite, a vida que lhe deveria pertencer. Mas o que ela não espera é cruzar-se com Benedict Bridgerton. E muito menos apaixonar-se por ele. A noite do baile está destinada a tornar-se inesquecível. Mas o que poderá acontecer quando a magia terminar?
Com uma premissa muito semelhante à história de Cinderela, e a presença desse conjunto carismático de personagens que são os Bridgerton, o que Julia Quinn apresenta neste Amor e Enganos é, ao mesmo tempo, uma interessante reconstrução para o já tão conhecido conto de fadas e uma base bastante diferente para mais uma das sempre emotivas e divertidas histórias da família Bridgerton. Assim, há um conjunto de novos elementos, relativamente aos volumes anteriores, bem como as mesmas características que os tornaram cativantes.
Em parte devido à história pessoal de Sophie, mas também porque grande parte do contacto inicial ocorre longe da restante família, o registo é, em certas fases, um pouco mais sério, ainda que haja, ao longo da história, momentos de humor mais que suficientes para equilibrar certos aspectos um pouco mais sombrios. Além disso, as diferenças sociais são, neste livro, postas em evidência, o que cria para os protagonistas uma relação um pouco mais difícil de sustentar.
E, dado que é o romance entre Sophie e Benedict o centro do enredo, as dificuldades que surgem entre ambos tornam-se particularmente interessantes, bem como o que define as suas personalidades. Neste aspecto, é Sophie quem sobressai, com a sua determinação em permanecer fiel aos seus princípios, mesmo nos momentos em que Benedict se mostra um pouco lento de compreensão. Esta é, aliás, a única fragilidade na evolução de romance, já que, pelo facto de demorar a compreender a natureza do pensamento de Sophie, Benedict cruza alguns limites e, assim, ainda que tudo seja redimido no final, criam-se alguns momentos menos agradáveis.
Ainda assim, os muitos bons momentos são mais que suficientes para compensar estas poucas situações de maior estranheza. E, de entre os pontos fortes, há ainda outros que, ainda que comuns aos livros anteriores, importa referir. Desde logo, a escrita cativante e fluída, mas também o equilíbrio entre a emoção e o humor, com a presença de outras personagens (Bridgerton e não só) a surgirem como um complemento perfeito. E também a sugerir algumas interessantes possibilidades em termos de desenvolvimentos futuros.
Leve e divertido, mas com momentos de grande emoção, Amor e Enganos apresenta uma história cativante, com personagens fortes e vários momentos que - pelo que tem de comovente, ou pela diversão que proporcionam - ficam na memória. Trata-se, pois, de um livro que não desilude. Muito bom.
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