Maria Antonieta acaba de se tornar rainha de França e todas as atenções convergem na sua direcção. Bem presentes estão ainda os conselhos da mãe, mas, na mente da jovem rainha, a corte francesa nada tem em comum com o seu meio de origem e, por isso, não deve negar-se aos luxos e extravagâncias, pois cabe também à rainha ditar o rumo da moda. Mas, analisada por todos e criticada por muitos, Maria Antonieta esconde sob a imagem da ostentação uma mulher com profundas inseguranças, ligada a uma aliança que lhe exigia um filho que, de um casamento ainda por consumar, não pode surgir e vista pelo mundo, em parte devido ao seu comportamento, como alguém que, na verdade, não é. Ao longo do tempo, algumas problemas encontram solução, para outros surgirem no seu lugar. E, de entre boatos maldosos, paixões proibidas e um caso que torna a vítima em vilã, surgem as sementes de um futuro mais perigoso, de algo mais que uma revolta. Uma revolução.
Dando continuidade à história de Transformar-se em Maria Antonieta e, tal como este, narrado em grande parte na primeira pessoa, este é um livro com algumas características em comum com o anterior. Sendo a voz de Maria Antonieta a contar grande parte da história, cria-se uma sensação de proximidade e empatia, principalmente nos momentos mais dramáticos, já que os sentimentos da agora rainha são expressos, em grande medida pela sua própria voz. Mas, ao acrescentar outras perspectivas, principalmente na fase do caso do colar, reduz-se a limitação de conhecimentos, já que outros planos e outros pontos de vista ganham visibilidade, ainda que de forma discreta. Continua a haver alguma limitação a nível de contexto, principalmente no que toca às decisões reais (grande parte das quais alheias à rainha), mas tudo o que é essencial à história está lá.
Também quanto ao desenvolvimento do carácter da protagonista há uma evolução. Maria Antonieta surge como uma figura complexa, às vezes, contraditória, mas com uma evolução ao longo do percurso narrado neste livro. Da irreverência e dos mais estranhos caprichos até uma relativa maturidade, assente tanto na descoberta do amor como na longamente aguardada maternidade, há um caminho percorrido pela protagonista - e que, em alguns aspectos, se reflecte nos que a rodeiam. Há também algo de falibilidade, tanto na imagem que Antonieta tem de si própria como na que passa para o exterior, o que contribui também para uma maior humanização da rainha, mais próxima enquanto mulher que enquanto figura de estado.
Ainda uma nota para a forma como a autora desenvolve a questão da imagem negativa da rainha perante a opinião pública. Nem sempre injustificada, mas levada, com o evoluir da situação, a um nível extremo, a forma como o povo e os nobres lidam com a figura de Maria Antonieta reflecte bem o clima conturbado do tempo em que decorre a história, ao mesmo tempo que evoca alguma reflexão sobre a diferença entre o ser e o parecer.
Envolvente e sempre interessante, ainda que de ritmo pausado, Dias de Esplendor, Dias de Sofrimento apresenta uma história cativante, com um retrato bem conseguido da sua protagonista e uma evolução que promete muito de bom para o volume final desta trilogia. Uma boa leitura, portanto.
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