Tudo o que Juliet sempre quis foi um lar, um lugar com as pessoas de quem gosta lá dentro. Mas o seu sonho parece, agora, irrealizável. Acaba de se mudar com o namorado para a casa que arrendaram juntos e, nessa mesma noite, descobre que ele dormiu com a antiga companheira de quarto. Não é algo que Juliet possa superar e, por isso, a relação acaba ali mesmo. Mas aquele não é o único segredo a pairar sobre a sua vida. Ao procurar conforto para a sua tristeza num velho livro de artes domésticas da avó, Juliet descobre uma carta que lhe mostra o quanto não sabe sobre a sua vida e sobre a família disfuncional que é a sua. Enquanto as respostas dão lugar a mais perguntas, e cada nova perspectiva de relação (ou de tentativa de) levanta apenas mais problemas, Juliet encontra refúgio na costura... e nalguns momentos que, ainda que ela não saiba, podem ser o recomeço de que precisa.
Narrado na primeira pessoa pela protagonista e centrado na sua história e nas dos que a rodeiam, este é um livro que parte de uma premissa interessante, com algumas ideias muito boas, mas com uma concretização que deixa sentimentos ambíguos. São vários os pontos positivos, mas também são consideráveis as fragilidades. O resultado é uma leitura que, no geral, consegue ser agradável, mas que, nalguns aspectos, falha em cativar. Mas vamos por partes.
Os pontos positivos vêm, em grande medida, do potencial da premissa, e de algumas das bases da história que lhe está associada. A família disfuncional de Juliet justifica partes da sua forma de ser e a ideia de um percurso de superação desse contexto, depois de uma relação falhada, tem o seu potencial. Além disso, ao longo da história são afloradas algumas questões relevantes, ainda que de forma algo superficial.
Em termos de escrita, o registo é bastante simples, mas agradável quanto baste. Ao narrar a história do ponto de vista da protagonista, os seus pensamentos e dúvidas acabam por ganhar uma presença mais dominante, o que leva, por vezes, a um certo exagero. Ainda assim, o ritmo do enredo nunca se torna penoso e a simplicidade da narrativa reforça o impacto de alguns momentos realmente bons.
A principal fragilidade deriva da caracterização das personagens e dos seus comportamentos. Entre as várias figuras que marcam presença neste livro, não há ninguém que gere verdadeira empatia e as suas escolhas e posições na vida são, muitas vezes, contraditórias. Além disso, há uma certa ambiguidade das personagens quanto à (tão relevante no rumo dos acontecimentos) questão da infidelidade e situações em que o que sobressai é o lado mais odioso das diferentes personalidades. O resultado é que se torna difícil compreender as suas escolhas e a forma como reagem às situações.
Assim sendo, a impressão que fica deste Amor, Açúcar e Canela é a de um livro que parte de uma premissa interessante, mas que falha em certos aspectos da concretização. Agradável quanto baste e com alguns bons momentos, mas também com outros difíceis de compreender, consegue ser, nos melhores momentos, uma leitura interessante, mas poderia ter sido bastante mais.
Sem comentários:
Enviar um comentário