Ao perder a filha de doze anos num acidente, Hannah perdeu uma grande parte do que a fazia viver. Mas, ainda que pouco conforto pudesse retirar da sua decisão, soube que a doação dos órgãos de Emily poderia salvar muitas vidas e, por isso, não poderia escolher de outra forma. Um ano depois, e ainda a aprender a viver com a dor, Hannah acaba de inaugurar o seu novo salão de cabeleireiro quando a entrada de uma mulher com a sua filha adolescente começam a ligação que vai abalar a sua vida. É que Maddie, agora com dezasseis anos, foi a receptora do fígado de Emily e, ao perceber que todas as pistas lhe indicam essa ligação, Hannah não se consegue afastar. Mas as vidas de Maddie e da mãe, Olivia, estão longe de ser serenas e perfeitas. Presas a uma relação abusiva, ambas estão habituadas a fingir que nada se passa. Mas talvez esteja próximo o ponto em que fingir já não chega...
Dividido entre dois grandes temas, e abordando-os a ambos com a mesma intensidade, este é um livro que tem como grande ponto forte - e como causa essencial do impacto que provoca - a forma como retrata, por um lado, as reacções à perda de um filho e, por outro, a questão da violência doméstica. A história divide-se entre as três protagonistas, Maddie, Olivia e Hannah, contando as histórias sob os seus pontos de vista (e, no caso de Maddie, pela sua voz). E é através dos seus olhos que as questões são abordadas, o que, além de criar uma maior proximidade para com as personagens, torna mais clara a verdadeira complexidade das situações em que vivem. No caso de Hannah e da sua perda, as questões prendem-se com a sua forma de fazer o luto, mas também com o comportamento dela para com o mundo em redor e dos que lhe são próximos em relação a ela. Para Olivia e Maddie, são as razões para ficar em oposição às razões para partir, as dúvidas e o julgamento dos outros, a ténue linha que separa o que é fraqueza do que é verdadeira coragem.
As tribulações na história destas personagens, mais até que as ligações que estabelecem (ainda que estas sejam também muito importantes) estão na base de um enredo que, cativante desde as primeiras páginas, está, todo ele, repleto de tensão e de emoção. É fácil sentir empatia para com as protagonistas. E é a forma como lidam com os seus problemas, nem sempre fazendo a escolha certa, mas revelando tanto as forças como as vulnerabilidades, que torna Maddie, Hannah e Olivia personagens humanas e completas.
Ainda que haja uma forte relação entre as três protagonistas, há também, para cada uma delas, uma história particular e pessoal, mas, com tanto a acontecer na perspectiva global, há elementos que acabam por ficar para segundo plano e algumas pontas soltas das quais seria interessante saber mais. O passado de James, por um exemplo, é um aspecto do qual teria sido bom ver um maior desenvolvimento, já que, ainda que não o pudesse justificar, tornaria mais completa a sua caracterização. E quanto a personagens como Dirk, Noah, Sophie e Seth, há uma relação discreta e com muito potencial, mas para a qual muito é deixado em aberto. Ainda assim, e apesar da curiosidade que fica relativamente a estes aspectos, nada de essencial é deixado por dizer e o impacto da história é mais que suficiente para compensar a falta destes elementos.
Grandes temas e personagens fortes, numa história intensa e repleta de emoção, fazem deste Ao Encontro do Destino uma leitura cativante, comovente e com muito de memorável. Vale a pena ler, portanto.
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