Michael é um amigo imaginário e, como tal, deve ser um apoio para as crianças que precisam de ajuda. E dizem as regras que, quando a criança atinge os nove anos, o amigo imaginário deve desaparecer e ser esquecido, passando para uma nova missão. Mas não foi isso que aconteceu com Jane Margaux, a criança solitária e magoada que, além de permanecer nos pensamentos de Michael, o guardou também nos seus. E agora, vinte e três anos passados, quando os caminhos de ambos se voltam a cruzar, ambos sentem que algo de estranho pode estar para acontecer. Jane continua a não ser feliz, apesar do sucesso e do suposto namorado atraente. E Michael, numa pausa entre missões, dá por si perdido em memórias do que foi. Ambos parados num ponto em que nada é como deveria ser, Michael e Jane reencontram-se para que tudo mude. Mas será possível que, da imaginação, possa nascer um verdadeiro amor?
Num registo bastante diferente dos habituais policiais de ritmo intenso e acção constante, este é um livro que tem, ainda assim, alguns pontos em comum com outros de James Patterson. Mantêm-se os capítulos curtos, a escrita directa e pouco descritiva, o desenvolvimento do contexto à medida que a informação vai sendo necessária. Mas, bem distante das histórias de perigo e tensão que caracterizam muitas das séries de Patterson, este é também um livro que surpreende pelo que tem de diferente.
Também uma boa surpresa é a forma como as tais características familiares se adaptam também a este registo. Os capítulos curtos e a escrita directa mantêm a história focada nos acontecimentos principais, alimentando a vontade de saber um pouco mais sobre o que vem a seguir. Além disso, uma boa parte da história é narrada pela voz de Jane, o que cria uma sensação de proximidade, enquanto os restantes capítulos, narrados na terceira pessoa, permitem conhecer o ponto de vista de Michael, permitindo ver o outro lado da história. E claro, a simplicidade da escrita acrescenta uma certa leveza, algo que, tendo em conta o lado emocional da história, é também especialmente cativante.
Mas o lado mais interessante de toda esta história é precisamente a premissa invulgar e a forma como esta é desenvolvida. A ideia de uma relação real entre Jane e o seu amigo imaginário surpreende, em primeiro lugar, pelo que tem de improvável, mas rapidamente se torna cativante, na forma quase inocente como reflecte o afecto e a ternura que definem a relação entre os protagonistas. Além disso, tendo em conta as outras figuras centrais na vida de Jane, o papel de Michael enquanto refúgio na sua vida proporciona momentos especialmente marcantes.
Quanto a Michael e às suas circunstâncias peculiares, ficam algumas perguntas em aberto no que diz respeito àquilo que o humaniza. Neste aspecto, fica, talvez, a impressão de que mais poderia ser dito. Ainda assim, e tendo em conta o rumo da história, contam mais os sentimentos que as explicações e, nesse aspecto, não falta nada de essencial. Desde os primeiros momentos ao final comovente, não ficam na memória as coisas que ficam por contar, mas o afecto que é, no fundo, o cerne de toda esta história.
Enternecedora e envolvente, esta pode ser, no essencial, uma história simples. Mas, repleta de emoção e de afecto, com um casal protagonista que facilmente cativa e vários momentos de surpreendente ternura, é também uma viagem que fica na memória. Uma boa leitura, portanto.
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