sexta-feira, 22 de janeiro de 2016

Mundo do Fim do Mundo (Luis Sepúlveda)

Fascinado pela leitura de Moby Dick, um adolescente aproveita as férias para embarcar numa viagem de descoberta. A ânsia de aventura leva-o a embarcar num baleeiro, onde acaba por descobrir que a ficção é, por vezes, muito distinta da realidade. Anos depois, enquanto jornalista, é chamado a voltar ao lugar das suas memórias para ver o que aconteceu a um grupo de piratas que se dedicavam à caça furtiva de baleias. E aí descobre um sentido diferente para a aventura. Ou uma forma diferente de entender o seu mundo do fim do mundo.
Um dos aspectos mais inesperados deste livro, tendo em conta a sua relativa brevidade, é a vasta componente descritiva. É certo que é, no essencial, uma história de viagens, mas a verdade é que o cenário, com todo o contexto que lhe está associado, acaba por ser o elemento dominante do livro, mais que as personagens, mais que a história, mas até do que a grande revelação final que é o momento de máximo impacto da narrativa. E é precisamente por causa destas tão abundantes descrições que este é um livro que deixa sentimentos ambíguos.
Mas sentimentos ambíguos porquê? Na verdade, a explicação é muito simples. É que, por um lado, as extensas descrições e a abordagem às questões da caça às baleias e da forma como os caçadores contornam a legislação tornam este livro especialmente relevante, até porque à pertinência do tema se junta uma escrita de grande qualidade. Por outro lado, esta descrição que se eleva acima do enredo cria uma impressão de distância, que faz com que nenhuma - ou quase nenhuma - personagem gere verdadeira empatia e, assim, remetendo o leitor para um papel de espectador. De espectador interessado, talvez, mas apenas de espectador.
Isto não quer dizer que não seja uma boa leitura. A fluidez da escrita e a relevância das questões que evocam compensam grande parte desta distância. Fica, é certo, a curiosidade em conhecer melhor as personagens e as suas histórias, até porque, na fase final, há duas figuras que assumem um papel muitíssimo importante. Além disso, é possível sentir-se parte da tal ânsia de descoberta do protagonista, o que atenua também a tal impressão de distância.
A impressão que fica é, pois, a de um livro em que o que mais se destaca é a relevância das questões que aborda, bem como a solidez de uma narrativa bem escrita. E por isso, pode não ser um livro muito marcante do ponto de vista emocional, mas não deixa de ser uma boa leitura. 

Autor: Luis Sepúlveda
Origem: Recebido para crítica

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