quarta-feira, 10 de fevereiro de 2016

A Corporação Invisível (Luís Sítima e Hugo V. Costa)

Carlos Anderson dos Santos, CEO de uma grande farmacêutica, está desaparecido. Ninguém sabe o que poderá ter acontecido, e as únicas pistas - as que o próprio Charlie deixou para trás - são um enigma difícil de decifrar. Muitas suspeitas recaem sobre os membros da administração, mas nem por aí a situação parece fácil de desvendar. E é por isso que um detective é contratado para, infiltrado entre os potenciais novos membros da empresa, seguir as estranhas pistas e descobrir o paradeiro de Charlie. Mas o que este detective está longe de imaginar é que o caminho que tem pela frente o conduzirá de enigma em enigma, rumo à resolução que menos espera.
Narrado, em grande parte, pela voz do protagonista e seguindo passo a passo as principais pistas na sua viagem de descoberta, este é um livro que surpreende, em primeiro lugar, pela forma algo inesperada como conjuga elementos que, à partida, não são propriamente novos neste género de livro. Temos A Divina Comédia, sociedades secretas, pecados e virtudes e um grande conjunto de elementos religiosos, filosóficos e mitológicos a servirem de base à investigação de um desaparecimento. E, contudo, nada na forma como o enredo evolui corresponde ao que seria de esperar dos thrillers que normalmente assentam neste tipo de elemento. Claro que continua a haver espaço para uma boa teoria da conspiração. Mas a forma como estas teorias são construídas - e o resultado que pretendem obter - é bem diferente do que se poderia, à partida, esperar. E isto torna a história muito surpreendente. 
Também bastante cativante é a forma como o livro está construído, assente, até certo ponto, na divisão entre os sete pecados mortais (elemento fulcral para a construção das grandes revelações do enredo) e narrado em capítulos curtos e directos quanto baste. Há, é verdade, algumas exposições mais longas, que, associadas à própria caracterização algo distante das personagens, quebram um pouco o ritmo do enredo. Mas são, apesar disso, informações necessárias e que permitem uma melhor percepção das revelações finais.
Tendo em conta a forma como tudo termina, e alguns dos passos dados pelo protagonista até lá chegar, é inevitável a impressão de que certos aspectos são deixados por explicar, não só relativamente à forma como foi possível levar a cabo aquilo que está na base de todo o mistério, mas também quanto à história de algumas das personagens. Fica, por isso, a ideia de que mais haveria a dizer sobre certos aspectos do enredo, mas o inesperado das respostas obtidas acaba por compensar, em certa medida, a sensação de insatisfação quanto ao que fica por dizer.
Trata-se, no fundo, de uma história com uma mensagem para transmitir. Uma mensagem forte, e que está sempre bem presente no enredo, mas que nunca se sobrepõe em demasia ao ritmo dos acontecimentos, o que permite assimilar as ideias sem que se perca o prazer de ler simplesmente a história de uma boa aventura. E também este equilíbrio entre o enredo e as ideias que lhe servem de base contribui para fazer com que, mesmo quando a intensidade dos acontecimentos abranda, a narrativa nunca perca a envolvência.
De tudo isto resulta uma história em que ideias, acontecimentos e personagens convergem para dar forma a um livro intrigante e surpreendente, e em que pode não haver respostas para tudo, mas o essencial está lá. Cativante, equilibrado e muito interessante na forma como conjuga todos os elementos que lhe dão vida, uma boa leitura. 

Título: A Corporação Invisível
Autores: Luís Sítima e Hugo V. Costa
Origem: Recebido para crítica

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