Aos catorze anos, Jorg Ancrath vingou-se do assassino da mãe e conquistou um trono para si. Agora, passados quatro anos, tem um inimigo às portas e a desvantagem numérica é devastadora. Jorg sabe que nunca poderá vencer uma guerra limpa - mas jogar limpo também nunca esteve na sua natureza. Ele tem um plano. Mas, quando há sombras que movem reis como peças num tabuleiro, esse plano tem de ser bem guardado até ao momento de o pôr em prática. E, para isso, nem ele pode recordá-lo. Travar a batalha que lhe falta poderá aproximá-lo do lugar de Imperador que tanto ambiciona - mas há memórias que se escondem por um bom motivo. E, se recorrer aos segredos que decidiu guardar bem longe, Jorg poderá ganhar terreno - mas tem também muito a perder.
De tudo o que de bom se pode dizer sobre este livro - e há tanto de bom a dizer - a primeira coisa que importa destacar é a escrita. Narrado, em grande parte, pela voz do protagonista, este é o tipo de livro que dá vontade de ter um caderno ao lado para apontar citações. E isto é surpreendente, desde logo, porque Jorg não é, à primeira vista, feito da matéria dos eruditos, mas principalmente porque é possível ver o que se passa nos intrincados meandros da cabeça do protagonista sem nunca se perder de vista a intensidade do ritmo dos acontecimentos.
O que me leva a passar da escrita às personagens. Jorg é fascinante. Já o era no volume anterior, mas a notável evolução que acontece ao longo das páginas deste segundo volume torna-o ainda mais complexo e marcante. E o mesmo se pode dizer de várias das figuras que o rodeiam, com o inevitável destaque para Makin e Katherine, claro, mas também para figuras aparentemente mais discretas, como Gog, Chella e o tão predestinado Príncipe da Flecha. Há em todas estas personagens algo de cativante a descobrir. E vê-las pelos olhos de Jorg... bem, acrescenta-lhes uma dimensão diferente.
Quanto ao enredo, tudo é interessante, desde o intercalar entre os desenvolvimentos do dia da batalha iminente e o passado que levou Jorg àquela posição aos pequenos e grandes momentos que lançam uma nova luz sobre este estranho herói que às vezes mais parece um vilão. E, claro, não esquecendo as grandes reviravoltas dos sempre arriscados planos de Jorg, as muitas revelações sobre a estranha magia que molda o mundo deste livro e as descobertas de um passado que podia muito bem ser um futuro real. Tudo cativa nesta história e mesmo o que é deixado por dizer - guardado, talvez, para o derradeiro volume - apenas contribui para aumentar a expectativa quanto ao que poderá vir a seguir.
Que mais dizer, então, sobre este livro? Que surpreende, que vicia, que fascina tanto pelo que tem de negro como pelos inesperados raios de humanidade. Que vale a pena, da primeira à última página. E que promete ainda mais e melhor para a conclusão de uma trilogia até agora fascinante. Intenso, sombrio e surpreendente, não posso deixar de recomendar este Rei dos Espinhos.
Título: Rei dos Espinhos
Autor: Mark Lawrence
Origem: Recebido para crítica
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