quinta-feira, 9 de agosto de 2018

O Homem nas Sombras (Phoebe Locke)

Diz a lenda que o Tall Man matou a filha por ela ser desobediente - mas que, às raparigas que lhe derem presentes e subserviência, ele pode torná-las especiais. E foi esta lenda a origem de um crime cujas ramificações se estenderiam pelo futuro. Na infância, Sadie e as amigas fizeram um sacrifício ao Tall Man. E, anos depois, quando teve a sua própria filha, a noção de que Amber poderia estar amaldiçoada fê-la fugir para a proteger. Só que as sombras nunca partem verdadeiramente. E, ao regressar a casa, julgando ter deixado o pior para trás, Sadie traz consigo o fardo do seu passado. Porque o Tall Man leva filhas. Mas às vezes precisa de um pouco de ajuda...
Oscilando entre diferentes períodos e também diferentes perspectivas, este é um livro que leva o seu tempo a assimilar. Talvez por os verdadeiros contornos do crime só serem revelados numa fase já muito avançada do enredo, muitas das referências feitas pelas personagens assumem uma certa ambiguidade, o que torna o início um pouco confuso. Além disso, se há coisa que não há neste livro é personagens que despertem simpatia. Todas são contraditórias, imperfeitas. Todas têm segredos e sombras a esconder. E, se é verdade que isso cria uma maior distância - e, no caso de Federica, uma ligeira irritação - também o é que confere à história uma perspectiva um pouco mais realista.
Quanto ao Tall Man, é também um mistério em si. Em parte lenda, em parte superstição e - por vezes - em parte real (pelo menos na mente de algumas das personagens), nunca se chega a saber sobre ele uma verdade absoluta, o que deixa, é claro, uma certa curiosidade insatisfeita. Mas também isto faz sentido, pois, sendo ele um homem de sombras, é apenas natural que a sua verdadeira natureza (real ou imaginária) seja também deixada às sombras da imaginação.
Mas voltando ao enredo. O início é, realmente, bastante pausado, em parte pela sensação de se saber muito pouco e em parte pela distância sentida relativamente às personagens. Mas a história vai-se entranhando aos poucos, à medida que as surpresas vão surgindo, e, se o ritmo nunca chega a ser realmente compulsivo, há ainda assim um crescendo de intensidade que culmina num final bastante forte. E quanto à tal empatia? Nenhuma das personagens se torna subitamente adorável, não - mas tornam-se mais fáceis de entender.
A impressão que fica é, pois, a de um livro peculiar, ainda que não propriamente viciante, em que diferentes momentos e personagens se conjugam para dar forma a um mistério intrigante, surpreendente e com um final particularmente intenso. Gostei. 

Autora: Phoebe Locke
Origem: Recebido para crítica

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