sexta-feira, 31 de agosto de 2018

Salpicos de Mim (José António Pinto)

Amor, saudade, sombra e inspiração. Poder-se-ia dizer que são estes os protagonistas neste conjunto de poemas em que cada texto é uma individualidade única, mas em que todos formam um todo coeso e mais amplo. Pois uma das primeiras impressões a manifestar-se é precisamente esta: a de que cada poema é em si mesmo uma unidade, mas todos parecem pertencer a uma mesma voz, a um mesmo sujeito que vive, respira, sente. E, assim, lêem-se quase como se de uma história se tratasse: uma história feita mais de sentimentos que de acontecimentos, é certo, mas uma história, ainda assim.
São maioritariamente poemas muito breves e, contudo, não lhes parece faltar nada. É esta, aliás, outra das grandes qualidades deste livro: a facilidade com que, em poucas linhas, se constrói uma imagem completa, seja ela de um instante vivido ou de um sentimento interior. Aqui, a vida acontece em poucas linhas, pois bastam essas para dizer o essencial. E é isso que torna cada poema memorável, pois vai directo ao essencial do sentimento - seja ele amor, atracção, melancolia, saudade ou vazio.
Claro que, sendo a grande maioria dos poemas dedicado ao amor (em qualquer das suas múltiplas formas) pode parecer, a espaços, que o tema se repete. Ainda assim, há um efeito intrigante nesta repetição de aspectos: por um lado, sai reforçada a ideia da força do amor, já que este parece ter de se manifestar múltiplas vezes; por outro, reforça também a coesão do todo, já que é esse mesmo amor o fio de ligação que une todos os poemas.
Trata-se, pois, de uma leitura breve, mas marcante, em que cada poema contém em si um pequeno mundo de sentimentos. E em que o todo, sempre maior do que a soma das partes, proporciona uma agradável e sempre cativante viagem às múltiplas facetas do amor. Gostei. 

Título: Salpicos de Mim
Autor: José António Pinto
Origem: Recebido para crítica

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