Quando surge um conflito de ideias, assumem-se muitas vezes papéis antagónicos, em que cada um dos lados parte do princípio de que está absolutamente certo, estando o outro flagrantemente errado. Num mundo ideal, este tipo de discussões seria movido pela procura da verdade e só esta atribuiria a vitória da discussão a um ou outro lado. Mas a obstinação está na natureza humana, e muitas vezes importa mais a vitória do que a verdade. Como vencer, então, uma discussão - mesmo que a verdade não esteja assim tão perto? Bem, é a essa pergunta que este pequeno livro pretende responder.
Um dos primeiros aspetos que importa referir sobre este livro é que, apesar da relativa brevidade, exige o seu tempo de assimilação. Primeiro, pela forma como analisa os contrastes entre estar certo - conhecer a verdade - e estar certo - impor a própria verdade ao outro, ainda que esta seja falsa, o que leva a uma inevitável reflexão sobre a natureza humana e alguns dos seus aspetos menos luminosos. Depois, pela grande quantidade de estratégias e pelas particularidades de cada uma delas, sendo que algumas são óbvias, mas outras nem tanto.
Também a escrita é algo densa, embora seja, de certo modo, inevitável, uma vez que se trata de um livro sobre os meandros e complexidades do debate. Ainda assim, e apesar deste registo, não deixa de ter o seu lado cativante, para o que contribuem as secções relativamente curtas e os vários exemplos que vão sendo dados ao longo de cada explicação.
Finalmente, importa olhar de novo para a parte do material para a reflexão, pois, além da já referida obstinação da natureza humana, levanta ainda outra questão. O que é a verdade? Ao longo deste livro, traçam-se várias distinções, distinguindo a verdade absoluta do que é verdade para um indivíduo ou grupo de indivíduos. E assim, esta abordagem à arte de debater serve também de ponto de partida para uma ponderação sobre a forma como vemos o mundo: o que para nós é verdade, nem sempre o será para todos. E quando isto se verifica, a discussão torna-se quase incontornável.
Breve, mas surpreendentemente complexo, trata-se, em suma, de uma leitura cativante na sua exigência, quase como um manual de estratégia, mas que não se esgota nos passos apresentados. Uma boa base para treinar a arte do debate e também para refletir sobre os absolutos da vida - se é que existem realmente.
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