terça-feira, 8 de fevereiro de 2022

O Homem de Lugar Nenhum - Volume 1 (Tiago Barros e Fábio Veras)

Perdido num mundo difícil de definir, e onde o estranho e o surreal estão tão presentes que se tornaram naturais, um homem procura uma saída. Diferente de todos, as regras daquele estranho mundo não se lhe aplicam. Mas há toda uma infinidade de coisas que não sabe, sendo a única certeza a de que não é o único naquele mundo à procura de uma saída. Não está sozinho, não é o único que está perdido. E o que o rodeia pode parecer surreal - mas há quem entenda bem menos do que ele.
Uma boa palavra para começar a descrever este livro será improvável. Improvável porque tudo neste percurso é feito de improbabilidades, desde a estranheza dos cenários à possível ligação entre mundos, sem esquecer a estranha naturalidade com que todos os elementos estranhos são encarados. Todo o caminho é como que um labirinto de aspetos surreais, que nem as personagens entendem ainda muito bem e que transmite ao leitor toda a sua estranheza, através dos diálogos estranhos, do mistério que tudo domina e, sobretudo, dos cenários singulares.
Sendo uma história de estranheza e de inexplicáveis - e este primeiro volume deixa mais impressões do que propriamente certezas sobre os comos e os porquês do mundo e das personagens - é inevitável que fiquem perguntas sem resposta. É o que mais fica, aliás. Ainda assim, e apesar dos sentimentos ambíguos gerados pela confusão global que é cair de para-quedas num mundo onde pouco é explicado (à semelhança das personagens, naturalmente), a estranheza de compreender muito pouco é compensada pelo muito que surge já de sugestivo e de intrigante, despertando curiosidade para as muitas possibilidades e prometendo novos mistérios para a parte que falta desvendar.
Ora, se não faltam perguntas sem resposta ao longo do caminho, é de esperar que também as haja relativamente à conclusão - ou não fosse este um primeiro volume. Sobressai, ainda assim, a forma como tudo termina, com um inesperado crescendo de ação e uma cena final que, apesar de obviamente aberta, deixa, ainda assim, uma sensação de possível final de etapa.
O que fica, então, desta aventura surreal é uma conjugação de estranheza e de fascínio, num cenário surreal e intrigante em que ninguém se revela ainda na sua totalidade - até porque nem as personagens conhecem esse todo. Surpreendente e singular, deixa muito em aberto, mas não deixa de ser um início deveras promissor.

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