domingo, 19 de setembro de 2010

Criaturas Maravilhosas (Kami Garcia e Margaret Stohl)

Foi num sonho que Ethan viu Lena pela primeira vez. Mas, como se não bastassem as circunstâncias demasiado reais dos seus sonhos (que se manifestavam no mundo físico de formas bem reais), Lena surge na realidade como a nova aluna da sua escola... E, sendo sobrinha do velho Ravenwood - tido por louco e desprezado por toda a vila - Lena torna-se automaticamente alvo de um ódio generalizado. Mas não é esse o seu maior problema. Coisas estranhas acontecem quando ela está por perto. Há uma maldição no passado e uma estranha magia na sua natureza. E, ainda que Ethan e Lena partilhem sentimentos profundos, eles são, de facto, de mundos diferentes.
Romance sobrenatural com dois adolescentes como protagonistas, este é um livro que se distingue essencialmente pela forma como elementos exteriores ao romance se juntam para criar uma história mais complexa que simplesmente o amor aparentemente impossível entre um mortal e um ser sobrenatural. E as diferenças começam pela voz narrativa. A história é contada do ponto de vista masculino, pela voz de Ethan, que, contrariamente ao que sucede na maioria deste tipo de história, é o elemento mortal da relação. Lena, por sua vez, é uma Encantadora, e os seus poderes, bem como as transformações que nela vão sucedendo, são revelados de forma gradual e progressivamente mais intensa, à medida que a contagem decrescente para o consumar da maldição parece afastar os recursos que talvez a pudessem salvar.
Os pontos mais interessantes deste livro estão nos recuos no tempo, até à época da Guerra Civil, para revelar uma história estranhamente semelhante com a dos protagonistas, ao mesmo tempo que o poder dos Encantadores vai ganhando forma e novas pistas são desvendadas para um possível caminho que mantenha juntos Ethan e Lena. Estes elementos misteriosos, associados à caracterização das forças mágicas, dos encantamentos e tipos de magia, e do aparecimento de criaturas sobrenaturais mais complexas, como os Íncubos, tornam a leitura bastante envolvente e, ainda que os inevitáveis momentos românticos estejam presentes, não há uma quebra de ritmo.
Ainda de referir a forma interessante e surpreendentemente realista como as autoras apresentam a vida em lugares pequenos, onde toda a gente se conhece e toda a gente se julga superior aos restantes. A forma como as pessoas de Gatlin se julgam no direito de interferir na vida de quem quer que seja, bem como o papel como esta atitude de rejeição vai representar no culminar dos acontecimentos, dão à história um interessante impulso no sentido da empatia para com o protagonista.
Cativante e com uma escrita agradável, este é um livro que conjuga bastante bem a base de romance da história, com elementos de mistério, de acção e de uma emoção que não se resume ao elo entre os protagonistas, mas também às relações familiares e a um forte e muito bem descrito sentimento de perda. Muito bom.

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