terça-feira, 28 de setembro de 2010

Sem Sangue (Alessandro Baricco)

Do seu esconderijo escuro, Nina ouve a discussão entre o pai e os homens que vieram para o matar. Depois a violência toma posse da situação e apenas a morte parece reinar. Mas quando um dos assassinos abre o alçapão e encontra Nina, acaba por decidir esconder a sua presença e fingir não ter visto ninguém. Este acontecimento marcará a vida de ambos e o que farão depois... até que, passado muito tempo, se voltam a encontrar.
É difícil explicar totalmente os sentimentos que este livro provoca. Constituído por duas partes muito diferentes em tom e intensidade, mas ambas marcadas por uma escrita cativante e plena de sentimento, o caminho de Nina marca intensamente, ainda que a totalidade da sua história se leia em poucas horas.
A primeira parte é violenta, cruel, por vezes arrepiante no impacto com que a morte entra na vida da criança, escondida na escuridão enquanto a fúria e os gritos (e, depois, o silêncio, chegam até si). Na segunda, Nina cresceu. Tornou-se uma mulher em busca dos homens que lhe destruíram a vida. E, na conversa quase calma que ela mantém com o homem que lhe matou o pai, é revelado, com grande poder ainda que de forma sucinta, o efeito que aquela morte distante exerceu sobre a sua vida e a pessoa em que Nina se transformou.
Mas nem só de morte e de ciclos de vingança vive esta história. Se Nina é a força de persistir perante uma vida marcada, Tito, por sua vez, é a oscilação entre extremos de cobardia (que o mantiveram em acção depois de terminada a suposta guerra), actos de uma coragem quase incompreensível e, por fim, uma resignação quase impossível de conceber. E são estes dois, estas duas forças em conflito com a memória do passado, que marcam a intensidade emotiva desta história que, apesar da sua brevidade, deixa na mente do leitor uma impressão duradoura.
Intenso, emotivo e, por vezes, perturbador, um livro que permanece bem depois do virar da última página, e que reflecte, mais que na elaboração das palavras, na força dos sentimentos, o verdadeiro efeito de um acto na vida que continua. Muito bom.

1 comentário:

  1. Quando li este livro não consegui parar até ao virar da última página. E lembro-me que andei ali uns tempos desmotivada com outras leituras, tal foi a intensidade deste. Muito bom, e agora ao ler o post, fiquei com vontade de lhe pegar de novo.

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