domingo, 2 de dezembro de 2012

A Estepe (Anton Tchékhov)

Na companhia de um padre e do seu tio, que viajam em negócios, o pequeno Iegoruchka deixa a sua casa e parte, para estudar. Leva, consigo, as expectativas da mãe e também as do tio que se responsabilizou por encontrar-lhe um lugar. Mas a jornada não será fácil. Através da estepe, na sua monotonia repetitiva, Iegoruchka acompanha o tio e, depois, um grupo de carreiros, numa viagem em que as atribulações são pontuais, mas estranhas a seus olhos, e o tédio um companheiro quase sempre presente. O destino parece, por vezes, longínquo. E a chegada não será um fim, mas um início de vida...
O mais cativante em toda esta história é o papel de Iegoruchka na história da sua jornada. Tímido e assustado, o rapaz é, durante a maior parte do tempo, simplesmente um observador. Mas a inocência que lhe resulta da idade e a confusão da mudança tornam peculiar a sua percepção do que vê. Na sua ingenuidade, Iegoruchka avalia os seus companheiros por uns poucos traços de carácter que consegue perceber e isso dá-lhe uma visão invulgar da realidade. Uma realidade à qual os seus sonhos se juntam, criando, por vezes, uma fusão entre o imaginário e o real, reflexo dos medos e desejos do protagonista.
A história é, essencialmente, a da viagem, e a viagem pela estepe é, por vezes, repetitiva. Talvez por isso, as longas descrições e as repetições de um cenário familiar definem para a leitura um ritmo pausado, havendo vários momentos parados por entre as situações mais interessantes. Ainda assim, a fluidez da escrita compensa este abrandamento do ritmo e a perspectiva de Iegoruchka daquilo que vive, com os valores bem definidos da sua juventude a servir-lhe de interpretação própria ao mundo dos adultos que o acompanham, confere à história um tom de inocência que chega, por vezes, a ser comovente.
Mas todas as viagens se encaminham para um destino e, como tal, é o atingir desse destino o ponto culminante - e o mais marcante - da história. Talvez pelo crescimento que a viagem incutiu em Iegoruchka, ou talvez pelos discretos, mas perceptíveis, traços de uma preocupação, por parte do tio, que mal se notou no restante do enredo, a forma como a história se conclui é de uma emotividade surpreendente, realçando a mudança que, inevitavelmente, se segue para a vida de Iegoruchka, mas enfatizando também a que já ocorreu durante o percurso. Tudo está em aberto, porque toda a vida do protagonista está pela frente, mas a conclusão, num ponto de destino que é também uma partida, não poderia ser mais adequada.
Trata-se, pois, de uma história que, com as suas longas descrições e o ritmo algo pausado de acontecimentos, nunca será de leitura compulsiva, mas que, com a beleza da escrita, o percurso de crescimento do protagonista e a conclusão inesperadamente intensa, acaba por ficar na memória pela força da jornada que apresenta. Tudo somado, dá uma boa história e um livro que vale a pena ler.

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