segunda-feira, 24 de dezembro de 2012

O Livro dos Perfumes Perdidos (M.J. Rose)

Jac sempre julgou que as suas visões resultavam de alguma espécie de doença mental. Por isso, e após um período particularmente difícil e muitos tratamentos sem resultado, Jac lutou para encontrar uma forma de conter as visões. E conseguiu. Agora, o passado ficou para trás e Jac não quer pensar senão na normalidade da sua vida. Mas o pai deixou a Maison L´Étoile numa situação difícil e o irmão, que alimenta os mesmos sonhos do pai de conseguir dar forma a uma fragrância de capacidades superiores, não está disposto a aceitar a solução pragmática de Jac e vender as fórmulas de alguns dos perfumes mais conhecidos. Além disso, Robbie encontrou algo de precioso, que pode significar que o seu sonho está próximo. Entre o caos do laboratório, alguns fragmentos de cerâmica de origem egípcia falam de um aroma capaz de fazer recordar vidas passadas e encontrar uma alma gémea. Pode ser a prova da existência de reencarnações e, ainda que Jac seja uma céptica relativamente a esse assunto, outros há que vêem as potencialidades da peça. E que estão dispostos a tudo para impedir que esta contrarie os seus interesses.
História, acção e, talvez, um toque de fantasia são os elementos que se cruzam neste livro que, tendo como centro o mistério das placas e as acções dos vários interessados em desvendar o seu segredo, tem muitos dos traços comuns ao thriller, mas também algo de inesperado para o complementar. A acção e o mistério são, muitas vezes, o elemento dominante, com o desaparecimento de Robbie a servir de base a uma série de buscas e as acções dos que querem obter a peça a criar vários momentos de tensão. Mas há questões associadas aos motivos de cada personagem que tornam a situação um pouco mais complexa, para lá da simples acção e da luta por um objectivo. Toda a questão da reencarnação levanta possibilidades interessantes, desde os estudos de Malachai, às muitas recordações de Jac, passando pela importante questão do sistema de crenças tibetano e das intromissões do regime para minar esse sistema. Levanta, também, algumas questões sobre as quais vale a pena reflectir, quer a nível de questões culturais e liberdade de crença, quer do papel da racionalidade na forma de viver a vida.
Por tudo isto, são os acontecimentos o essencial do enredo, havendo um bom núcleo de personagens na sua origem, mas com uma caracterização que surge na medida em que é relevante para o que está a acontecer. Isto deixa, por vezes, a sensação de que algo mais haveria a dizer sobre as personagens, no que toca à sua vida pessoal, sendo que a conclusão da história de Griffin e Jac, bem como da relação desta com o pai, acabam por ser contadas de forma algo apressada. Há, ainda assim, o suficiente dos traços essenciais de cada personalidade para sentir a empatia necessária nos momentos mais emotivos. A necessidade de pertença que dita parte do cepticismo de Jac é fácil de compreender, tendo em conta as motivações, e a quase inocência de Xie, personagem de presença discreta, mas muito relevante, contrasta com a vastidão de interesses em movimento.
Trata-se, assim, de uma leitura envolvente, com um ritmo bastante intenso e bons momentos de tensão a contrastar com a ocasional situação mais emotiva. De leitura agradável, com boas personagens e uma boa história, fica, deste O Livro dos Perfumes Perdidos, uma impressão bastante positiva. 

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