Através das cartas, quase poemas, que escreve a um amor sem nome, uma mulher divide-se em múltiplas personalidades para lidar com o que parece ser uma perda devastadora. Cada flor corresponde a um nome e cada nome a uma faceta da sua personalidade. A sedutora, a pensativa, a amargurada. Os pensamentos variam entre a evocação dos momentos eróticos e uma reflexão sobre o seu papel no mundo, passando pela perda e pela saudade, bem como pelo olhar com que vê os que a rodeiam. A dona das cartas é, ao mesmo tempo, uma e muitas mulheres, algumas delas difíceis de entender.
O mais interessante deste livro está na sua organização muito própria. Com as múltiplas facetas da personalidade associadas a diferentes flores, a alternância dos textos entre a forma poética e a quase crónica e a associação a diferentes datas significativas, a autora cria, para este pequeno livro, uma interessante estrutura, com várias ligações interessantes a criar um sentido de união entre os vários textos. Além disso, as múltiplas personalidades da protagonista reflectem-se não só no nome com que assina cada texto, mas também pela forma de expressão e pelas emoções que evoca, havendo, ao longo da leitura, vários momentos particularmente bons e algumas frases realmente memoráveis.
Há, ainda assim, algumas causas de estranheza. A primeira é o choque causado por alguns contrastes de vocabulário, em que palavras insinuantes, quase discretas, chocam com outras de linguagem dura e sem rodeios, deixando a impressão de uma mudança demasiado brusca. Além disso, é difícil criar empatia para com alguns dos pontos de vista desenvolvidos, nomeadamente naqueles em que os estereótipos sobre mulheres e homens, e respectivos papéis no mundo, são mais evidentes. Se a organização do livro realçava os pontos de união entre os textos, estas características realçam-lhe as diferenças, havendo alguns - particularmente entre os mais poéticos - em que as palavras e o que evocam parece familiar, enquanto que noutros é a estranheza que prevalece.
Este é, por isso, um livro que deixa sentimentos ambíguos, já que alterna entre alguns textos realmente marcantes e outros em que é difícil acompanhar a forma de pensar neles apresentada. Tem os seus momentos interessantes, ainda assim.
Eu sempre gostei do teu blog. Verdade seja dita que não comento muito (nunca fui de comentar), mas foi por gostar dele que te deixei um selinho no meu bloguinho :D
ResponderEliminarBjs*