sábado, 9 de novembro de 2013

Regresso ao Suez (Stevie Davies)

Agora adulta e mãe de uma criança, Nia regressa à viagem que em tempos fez com a mãe, rumo ao Egipto, em busca das respostas que lhe faltam sobre o seu passado. Naquele tempo, o pai, Joe Roberts, era um militar ao serviço do império britânico, e Nia e a mãe iam ao seu encontro. Mas foi também aí que tudo começou a correr mal. Ailsa era uma mulher inteligente, incapaz de se resignar ao politicamente correcto. Joe amava a esposa, mas não conseguia lidar com a quebra das regras estabelecidas. E, à medida que os tempos se tornavam mais conturbados, e os segredos mais densos, também a distância entre o casal se tornava maior. No centro, estava a criança que Nia fora e que, recordando apenas partes da verdade, quer, agora, enquanto mulher, encontrar o que lhe falta do passado. Mesmo que a verdade venha a ser dolorosa.
De ritmo pausado e com oscilações frequentes entre a história de Ailsa e a da própria Nia, este é um livro que exige uma certa concentração. As variações na linha temporal juntam-se a um tom algo introspectivo e a uma caracterização bastante extensa do contexto e da mentalidade vigente, para dar ao enredo um ritmo em que tudo parece acontecer devagar. Isto deve-se também ao facto de, durante grande parte do enredo, as mudanças e os momentos de tensão se deverem mais a pequenas coisas que a grandes acontecimentos - excepção feita, é claro, a uma fase final muitíssimo marcante.
Não será, portanto, uma leitura compulsiva. Ainda assim, os mesmos elementos que tornam a leitura pausada conferem-lhe também uma complexidade fascinante. Desde o contexto da presença britânica no Egipto às questões raciais e ao escalar do conflito a partir de cada novo acontecimento, a autora levanta várias questões relevantes, e desenvolve-as de forma esclarecedora. Nem sempre é fácil entrar na pele dos protagonistas, com todas as complexidades e ambivalência que os caracterizam, mas é possível, ao longo da leitura, ficar com uma ideia muito completa do contexto da época, quer relativamente a acontecimentos, quer a formas de pensar. Isto acaba por ser um dos grandes pontos fortes deste livro.
Relativamente às personagens, sobressai o impacto do secretismo na criação de um final de grande impacto. Tanto os segredos como as formas de pensar dos protagonistas contribuem para o conflito silencioso que se trava no seio do casal. Mas, se as atitudes de um e de outro criam, por vezes, uma certa distância - e, principalmente, quando associadas a uma mentalidade que, no contexto actual, se torna difícil de entender - também é verdade que essa mesma distância, abalada por uma série de acontecimentos, acaba por reforçar o impacto dos momentos emotivos, que surgem de facto, e dos quais sobressai um final muitíssimo marcante, no que à história de Joe diz respeito.
Não se trata, portanto, nem de uma leitura leve, nem fácil, nem viciante. Mas, pelo impacto de muitas pequenas coisas e de um grande final, bem como por um contexto muito bem desenvolvido, acaba por ser, ainda assim, um livro que cativa e que fica na memória. Gostei.

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