domingo, 6 de abril de 2014

Despedida de Casado (Virgílio Castelo)

Durante sete anos, João e Beatriz viveram um casamento intenso e atribulado. Agora, poucos meses depois do momento em que a ideia de divórcio surgiu pela primeira vez, vêem-se frente a frente, no que é suposto ser um pacto suicida, mas que João não consegue levar até ao fim. A iminência da morte, contudo, acaba por ser uma epifania - e o início do abismo da separação. Longe um do outro, João e Beatriz vivem novas experiências, conhecem novas paixões - e continuam a sentir-se puxados por uma atracção destrutiva. Pelo caminho, surgem as mudanças de vida e de sentimentos. Mas o fim... Esse, nem eles o conhecem.
Tendo em conta o facto de ter como premissa a história de uma relação, o que primeiro surpreende neste livro é o registo introspectivo e algo denso que domina a narrativa. A história do casal define-se por momentos intensos e por emoções contraditórias e, apesar disso, o que sobressai ao longo de todo o enredo é a reflexão, a ponderação sobre a vida dos protagonistas, o que têm em comum e o que são separados. E também uma análise mais vasta, considerando traços de personalidade e formas de estar perante o mundo. 
Disto resulta uma narrativa de ritmo pausado, com divagação quanto baste e algumas escolhas que, de tão analisadas e revistas, se tornam, elas próprias, um labirinto. Não será, por isso, uma leitura compulsiva, mas antes uma viagem gradual através das mentes e das vidas das personagens. Mas surge, ainda assim, desta teia de pensamentos, um conjunto de ideias surpreendentes e alguns pontos de vista com que é fácil criar ligações (ainda que também, é certo, outros em que sucede o contrário). Estes, associados aos ocasionais momentos de maior intensidade, mantêm viva a curiosidade em saber mais sobre o futuro e as consequências das decisões dos protagonistas.
Nem todas as perguntas são respondidas. Aspectos como a origem do pacto suicida ou as possibilidades que surgem das relações dos protagonistas são deixados numa relativa ambiguidade. E, ainda que nada de essencial seja deixado em suspenso, fica ainda assim insatisfeita a curiosidade que se cria relativamente a alguns desses elementos.
Considerando a totalidade, o que fica deste Despedida de Casado é a ideia de um livro introspectivo, de ritmo pausado e com momentos de inesperada peculiaridade. De forma alguma, uma leitura viciante, mas interessante, envolvente e, a espaços, surpreendente. Uma boa história, em suma.

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