Na Causton Amateur Dramatic Society, os preparativos para a estreia de Amadeus não auguram nada de muito promissor. A figura principal não vê nada além dele e parece decidido a questionar as decisões ditatoriais do encenador. Também os adereços e a iluminação parecem despertar dúvidas no conjunto dos actores, criando ainda mais dúvidas e mais tensão. A juntar a tudo isto, o rumor de uma infidelidade corre entre todos - excepto, claro, o principal interessado. Nada disto promete harmonia, nem sequer uma boa representação. Mas o que ninguém espera é que o grande golpe dramático da estreia, seja uma morte... real. E, assim, o inspector-chefe Tom Barnaby passa de um simples espectador ao responsável por descobrir a verdade sobre o que aconteceu.
Uma das peculiaridades mais interessantes deste livro, tal como, de resto, do anterior Morte na Aldeia, é o facto de, apesar de ter como centro um crime, não haver grande ênfase no medo e na tensão, mas antes no mistério e na forma como este se enquadra no anterior ambiente de normalidade. O crime surge, aliás, numa fase já relativamente avançada do enredo, depois de todas as personagens e o contexto geral da história terem sido já bastante desenvolvidos.
O ritmo do enredo é, pois, bastante pausado. E para isso contribui também o facto de a autora percorrer as perspectivas e histórias individuais das diferentes personagens que integram o grupo de teatro. Este cruzamento de histórias acaba, por vezes, por colocar o mistério em segundo plano. Ainda assim, e também porque muitas delas vêm já a ser desenvolvidas desde antes do acontecimento central, estas histórias conferem ao enredo uma maior complexidade, já que, nalguns casos, dão aos suspeitos um possível motivo, enquanto que, noutros, chegam a complementar o mistério com uma certa medida de emoção. Neste último aspecto, a história de Dierdre é especialmente marcante, já que, paralelamente ao episódio do crime, também Dierdre vive uma situação de particular intensidade.
Ainda um outro aspecto interessante nesta história prende-se com a caracterização de algumas personagens. Muitas delas têm algo de caricato ou uma característica que as torna invulgares, o que, desde logo, serve de base a alguns momentos divertidos. Mas há também aquelas, e aqui sobressai claramente a figura de Troy, que, pelas ideias que defendem, e pela forma como as expõem, servem para considerar alguns preconceitos, revelando-os como são: ideias de uma mente fechada. Este é, claro, um elemento discreto no meio de uma história mais vasta. Ainda assim, acaba por ser, também, um ponto forte.
Envolvente e agradável, peculiar em muitos aspectos, mas, precisamente por isso, cativante, Morte em Palco pode não ser uma leitura compulsiva. Mas não deixa de ser, ainda assim, uma boa história. Gostei.
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