quinta-feira, 21 de maio de 2015

As Crónicas dos Tugas (Miguel Correia)

Feito em grande medida de insólitos mais ou menos visíveis na comunicação social, e da perspectiva pessoal que o autor tem sobre o assunto, este é um livro que, num conjunto de crónicas sucintas e de leitura agradável, reúne o que de mais peculiar se vê no nosso país. E, se é certo que muitos dos episódios narrados nestas crónicas poderiam igualmente passar-se com gente de qualquer outra nacionalidade, há, ainda assim, um retrato que sobressai de um conjunto. E que, não sendo propriamente o mais agradável, é, apesar de algum exagero, bastante plausível.
Sendo grande parte destas crónicas centradas num ou noutro acontecimento específico, há inevitavelmente um certo contexto a considerar. Claro que todo o conjunto se define por um cenário global - de crise, como não podia deixar de ser - mas a cada uma das crónicas corresponde um caso concreto. Disto resulta que cada texto é completamente independente dos restantes, permitindo uma leitura sequencial ou uma visita aleatória aos diferentes episódios. Junte-se a isto o registo bastante sucinto e o especialmente agradável toque de ironia, e o resultado é uma leitura leve e bastante cativante.
Também importa referir que, mais que o caso na base de cada um dos textos, é o que o autor dele retira a base de cada uma das crónicas. E, neste sentido, sobressai uma perspectiva muito própria. Naturalmente que, dependendo do assunto, se pode concordar ou discordar e, de facto, é isso que acontece. Com alguns dos textos, é mais fácil sentir um certo reconhecimento, enquanto que outros despertam talvez uma instintiva discordância. Ainda assim, e sempre tendo em vista o conjunto como sendo, acima de tudo, reflexo dos pontos de vista do autor, há algo de cativante na forma como o autor expõe a sua perspectiva, num tom leve, mas crítico quanto baste, das circunstâncias que expõe.
E, por falar nas circunstâncias, fica, por vezes, principalmente nas crónicas que se referem a casos menos mediáticos, a impressão de que mais poderia ser dito acerca dos factos. Claro que o objectivo do texto não é uma exposição exaustiva, mas, ainda assim, fica, de alguns dos textos, a ideia de que um maior conhecimento dos factos poderia permitir uma apreciação mais completa.
A soma de tudo isto é uma leitura leve e agradável, com um retrato um pouco exagerado, por vezes, mas bastante certeiro, de algumas das peculiaridades do nosso país, e com um ponto de vista que, nunca deixando de se demarcar como pessoal e intransmissível, consegue, muitas vezes, evocar uma agradável impressão de familiaridade. Um livro interessante, portanto. 

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