Todos sonhamos. E, em sonhos, vamos a sítios que em tempos conhecemos bem, ou a outros que, de tão improváveis, nunca poderiam existir. O que este livro nos apresenta é um conjunto de quarenta sonhos, todos eles com tanto de surreal como de familiar. Os sonhos da autora, que reflectem a sua vida e os seus símbolos. Mas que, apesar de pessoais e intransmissíveis, representam uma viagem divertida... e, por vezes, estranhamente familiar.
Sendo este livro basicamente um conjunto de sonhos, é de esperar, à partida, que tenha bastante de improvável. E tem-no, de facto. Desde um casamento com Passos Coelho num cenário de Ali Babá e os Quarenta Ladrões a uma aula de pilates com António Costa, sem esquecer todo um conjunto de experiências mais ou menos improváveis com figuras mais ou menos familiares, o percurso através dos sonhos de Rita Redshoes é uma viagem através do surreal. Mas a verdade é que é isso mesmo que se espera dos sonhos. E, assim sendo, há uma característica que sobressai destes relatos: a nitidez com que a autora se recorda dos seus sonhos, tanto nos diálogos mais realistas como nas situações mais peculiares.
São histórias de sonhos, mas podiam igualmente ser pequenos contos improváveis, sendo precisamente isso que cativa para a sua leitura. É fácil imaginar uma personagem fictícia a viver estas estranhas aventuras, ao estilo de Alice - ou de Rita - no país das maravilhas. E, por mais estranhos que sejam estes relatos, há também uma fluidez na forma como são contados, uma naturalidade, que os torna quase reais e, por isso, apesar de toda a estranheza, muito envolventes.
Ainda um outro aspecto que sobressai é o conjunto de ilustrações que acompanham o texto, imagens que, não sendo propriamente uma representação directa do sonho, surgem, ainda assim, como um complemento, acrescentando ao relato algo de onírico ao mesmo tempo que, como um todo, contribuem para que o livro tenha um aspecto particularmente apelativo.
O que fica de tudo isto é a impressão de uma estranha viagem. Estranha, mas estranhamente cativante, através de um conjunto de registos com tanto de bizarro como de familiar e em que, nos sonhos de Rita, e no que podem ou não simbolizar, é possível reconhecer os sonhos de todos nós. Recomendo.
Título: Sonhos de uma Rapariga Quase Normal
Autora: Rita Redshoes
Origem: Recebido para crítica
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