sábado, 9 de maio de 2015

O Escriba (A.M. Dean)

Emily Wess comprou recentemente um manuscrito para a sua universidade. Não foi particularmente caro e nem parece ser de especial importância, já que há indícios de que possa ser, na verdade, uma falsificação. Mas, graças a esse manuscrito, uma mudança irreversível está prestes a acontecer na sua vida. Quando a sua casa é assaltada a meio da noite, e o primo morre a tentar defendê-la, Emily apercebe-se de que é o manuscrito aquilo que procuram e que há muito mais que um simples acaso por detrás daquele assalto. Não está, por isso, disposta a deixar o assunto às autoridades. Mas a viagem que a espera está repleta de perigos e Emily está longe de imaginar que aquilo que procura pode muito bem ser tudo o que separa o mundo de uma tragédia...
Tal como em O Bibliotecário, um dos primeiros aspectos a contribuir para manter a envolvência deste livro é a forma como está escrito. Capítulos curtos, numa escrita directa, ainda que descritiva quanto baste, e alternando entre diferentes pontos de vista, mantêm uma aura de mistério ao mesmo tempo que permitem ter uma visão mais vasta da posição das diferentes personagens no enredo, o que, além de despertar curiosidade para os planos de cada um, vai dando pistas que, nem sempre sendo verdadeiras, abrem caminho a algumas surpresas. Além disso, os breves recuos ao passado põem em causa algumas acções do presente, o que faz com que seja mais fácil questionar as motivações das personagens e, assim, ver as suas acções de uma forma diferente.
Mas falando de acção, que é um dos pontos fulcrais do livro. Grande parte da história gira em torno de um manuscrito antigo, e de um percurso de subsequentes revelações. Assim sendo, o caminho dos protagonistas leva-os de pista em pista - e de perigo em perigo - , sendo por isso certo que há sempre alguma coisa a acontecer. Também isto contribui para tornar a leitura cativante, já que, não havendo, no geral (salvo ocasionais excepções) grande envolvimento emocional, há, ainda assim, muito de interessante para descobrir, seja nas circunstâncias delicadas das personagens, seja nos obstáculos que têm de ultrapassar e que abrem caminho para um final que, não sendo completamente surpreendente, acaba, ainda assim, por marcar pela intensidade.
Na base da acção, há um conjunto de elementos históricos que justificam as motivações de algumas personagens ao mesmo tempo que constituem as pistas para as necessárias descobertas que vão surgindo ao longo do enredo. E, neste aspecto, o que mais cativa é a exposição acessível, mas não simplista, destes elementos, introduzidos de forma relativamente gradual, para que sejam mais facilmente assimiláveis. E vistos de diferentes perspectivas, o que, inevitavelmente, levanta a questão de como a interpretação de um elemento pode ser diferente de acordo com as motivações de quem a faz.
Trata-se, pois, de uma leitura cativante e agradável, com uma base histórica interessante e uma boa conjugação de acção e contexto. Uma boa história, de ritmo envolvente e com alguns momentos especialmente bem conseguidos. Vale a pena ler, portanto.

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