Georgie McCool está numa encruzilhada. Por um lado, o seu sonho de ter a sua própria série está prestes a realizar-se. Por outro, para o concretizar, precisa de renunciar ao Natal em família. E, quando o marido parte para Omaha com as filhas, deixando-a para trás, Georgie percebe que o seu casamento pode muito bem estar por um fio. De volta à casa da mãe para evitar a sua casa vazia, Georgie usa o telefone fixo para ligar ao marido. Mas o Neal que lhe atende o telefone não é o que partiu zangado com as filhas... mas antes o do Natal em que a pediu em casamento. Sem saber como explicar como ou porquê, Georgie dá por si com uma ligação directa ao passado. Mas há alguma coisa que possa fazer para salvar o que resta?
Uma das primeiras coisas a cativar neste livro - como, aliás, noutros da mesma autora - é a leveza da escrita. Tudo é narrado de forma muito simples, com a informação a surgir à medida que é necessária, sob a forma de memórias ou de pensamentos que vão ocorrendo aos próprios protagonistas. Além disso, há um certo sentido de humor que, nos momentos mais dramáticos ou mais caricatos, suaviza a tensão, o que, mesmo quando tudo é estranho, torna a história bem mais envolvente. E esta leveza acaba por se estender à própria história, que, mesmo quando trata de situações mais sérias, acaba por marcar tanto pela intensidade dos momentos emotivos como pelo estranho humor dos momentos mais bizarros.
Mas falemos da história. Tudo se centra essencialmente em dois aspectos: a relação de Neal e Georgie e a ligação entre presente e passado. Dois aspectos que, à medida que o enredo evolui, parecem fundir-se num só, pois a intervenção no passado - por mais estranha que pareça ser de início - acaba por ser fulcral para forma como tudo termina. É certo que ficam alguns pontos em aberto e situações por resolver, o que deixa uma certa curiosidade insatisfeita. Mas acaba também por fazer sentido, pois tudo começa com um ponto de viragem... e há sempre outros problemas a resolver depois.
Quanto às personagens, sobressai a forma como conseguem despertar sentimentos contraditórios sem por isso se tornarem incoerentes. Neal, sério e grave, mas com estranhos e deliciosos momentos de ternura. Georgie, obcecada pelo que quer, mas tão capaz de ver o que está errado como incapaz de perceber o que está mesmo à frente dos olhos. E as respectivas famílias e (no caso de Georgie) amigo, igualmente capazes de arrancar uma gargalhada, de mexer com os nervos de personagens e leitor ou de evocar o maior dos afectos. Ninguém é linear nesta história e, contudo, a leveza nunca se perde.
Da soma de tudo isto, surge uma leitura leve e divertida, mas com a dose certa de emoção. Uma história em que o amor - e tudo o mais que dá forma a uma relação - parece ser o verdadeiro protagonista, mas em que há espaço suficiente para tudo: mistério, humor e emoção. Vale, pois, a pena ler este Por um Fio. E conhecer as peripécias de uma viagem ao passado... diferente.
Título: Por um Fio
Autora: Rainbow Rowell
Origem: Recebido para crítica
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