Quando acorda numa cama de um hospital após um longo período de inconsciência, Corwin não se lembra de nada. Não sabe quem é, não sabe como foi ali parar... mas sabe que algo não bate certo na sua situação. Os poucos laivos de memória que lhe vão surgindo levam-no a forçar a saída do hospital e, seguindo as poucas pistas que conseguiu obter, a procurar refúgio na casa da sua irmã. Mas esse refúgio é pouco seguro - e Corwin sabe que não pode admitir a sua vulnerabilidade. Principalmente, quando começa a perceber quem é: príncipe de Âmbar, o único mundo verdadeiro, e mais que legítimo pretendente a um trono muito disputado. Precisa de voltar a Âmbar e afirmar a sua pretensão ao trono. Mas antes, precisa de recuperar as memórias que lhe fugiram. E, para isso, tem de aceitar aliados em que dificilmente poderá confiar.
Primeiro volume de uma muito longa série, este é um livro que cativa, em primeiro lugar, pelo vasto potencial que se esconde em cada momento. Desde que Corwin acorda no mundo normal e ao longo do seu vasto e estranho percurso, há em tudo o que rodeia todo um mar de possibilidades. Âmbar, mundo real, e as Sombras, em toda a sua vastidão, abrem toda uma série de caminhos possíveis. E quanto aos príncipes e aos seus... conflitos de interesses... bem, também aí as possibilidades são imensas. E, com a traição a espreitar ao virar de cada esquina, também no evoluir das relações tudo é possível.
O que me leva a outro aspecto muito interessante: a caracterização das personagens. Dadas as capacidades superiores dos príncipes de Âmbar, há também neles uma certa frieza que parece defini-los. E, contudo, talvez fruto da sua história específica, Corwin é... um pouco diferente. Ora, isto contribui em muito para o tornar mais cativante. E, além disso, há certos acontecimentos no enredo que fazem com que estas suas diferenças lhe conquistem uma maior empatia. Não deixa de ser um príncipe de Âmbar - matreiro e calculista - mas é também algo mais. E isso desperta muita curiosidade para o que lhe poderá suceder a seguir.
Com tanto potencial em bruto e tanto a explorar, quer no mundo, quer nas personagens, é inevitável a sensação de que certos aspectos na história acabam por se desenrolar de forma um pouco apressada. Há grandes batalhas, descobertas surpreendentes, mistérios passados a condicionar decisões presentes e toda uma teia de relações complexas. E é por isso que, em certos pontos, fica a ideia de que o impacto desses momentos seria maior se a narrativa não se cingisse tanto aos simples factos. Ainda assim, e tendo em conta quais são efectivamente esses factos, bem como a voz de Corwin a narrar a história, há neste primeiro livro mais que o suficiente para cativar do início ao fim. E também para despertar uma grande vontade de ler os próximos livros.
Tudo somado, a impressão que fica é a de um primeiro vislumbre de um mundo vasto e complexo. E também a do início de uma longa e tortuosa aventura, cheia de possibilidades insinuadas e de grandes momentos já narrados. Um início muito promissor, portanto, para uma série que, a julgar por este primeiro livro, vale certamente a pena descobrir.
Título: Nove Príncipes de Âmbar
Autor: Roger Zelazny
Origem: Recebido para crítica
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