terça-feira, 9 de abril de 2019

Samitério de Animais (Stephen King)

No dia em que se muda com a família para Ludlow, Louis Creed está longe de imaginar que os seus dias de felicidade estão contados, mas desde cedo se torna evidente que algo de estranho naquele lugar. Tudo começa de forma bastante inofensiva, com o vizinho do lado a levá-lo ao "Samitério" de Animais que se situa ao fim de um caminho que começa na sua propriedade. Mas, atrás daquele local onde gerações de miúdos enterraram os seus animais de estimação, esconde-se um poder bastante mais perigoso. E, quando o gato da filha morre, Louis é apresentado ao verdadeiro segredo: um segredo cujas consequências podem trazer uma devastação inimaginável.
Um dos aspectos mais cativantes dos livros de Stephen King em geral, e deste em particular, é a forma como, mais do que despertar choque imediato, o autor constrói uma aura de terror crescente. Inicialmente tudo parece estar bem, excepto pela sensação ominosa que parece pairar como uma aura sobre todo o ambiente. Mas, à medida que a história se desenrola, esta sensação torna-se mais densa e cada revelação traz novas possibilidades - e novas ameaças.
Este crescendo torna-se também particularmente notável devido àquele que é o tema central do livro: a morte. Morte que está em toda a parte, pairando e surgindo das formas mais surpreendentes. Desde o passado de Rachel à perda de Jud, passando pela simples possibilidade de um animal morrer ao atravessar a estrada, a ideia do fim e da perda é algo que se manifesta desde muito cedo. E também esta ideia vai crescendo, com a morte enquanto conceito natural a dar lugar a uma perspectiva mais sombria, em que o fim pode não ser necessariamente definitivo, mas a que preço? Tudo evolui de forma gradual, como um nevoeiro pesado que se cerra sobre as personagens, e é talvez devido a esta estranha opressão, que quase dá a sensação de estarmos lá com eles, que o grande final tem um impacto tão devastador.
E, claro, Stephen King é Stephen King. Há qualidades que já são expectáveis, desde a escrita envolvente às grandes surpresas e aos momentos impressionantes, sem esquecer o meticuloso equilíbrio entre um ambiente em que as sombras se adensam progressivamente e um enredo onde as grandes e as pequenas coisas contribuem igualmente para formar um todo viciante. Este livro não é excepção: todas estas qualidades estão presentes em força, associadas também a um surpreendente (e surpreendentemente intenso) rasgo de emoção que torna tudo ainda mais marcante.
Intenso, perturbador, cheio de surpresas. Viciante, emotivo e com uns rasgos de humor particularmente impressionantes. Que mais dizer sobre este livro? Que é daqueles que, apesar do tamanho, dão vontade de ler numa assentada. Mas que, uma vez terminados, se entranham na memória... durante muito tempo. Genial, em suma.

Autor: Stephen King
Origem: Recebido para crítica

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