quarta-feira, 31 de julho de 2019

O Filme da Minha Vida (Maite Carranza)

Olivia sempre pensou que o pior que lhe podia acontecer era ficar sem internet ou que as amigas a eliminassem das suas redes sociais. Mas está prestes a ter uma revelação. Tal como muitos outros, vê a crise deixar a mãe sem trabalho e atolada em dívidas. E eis que, de repente, ficam sem comida, sem luz, sem água... e sem casa. A mãe do Olivia vai-se completamente abaixo e cabe-lhe a ela manter o ânimo e a esperança. Mas como explicar ao irmão mais novo o que está a acontecer? É então que lhe surge a ideia de fazer de conta que estão num filme, o que parece agradar ao pequeno Tim. E, enquanto o sofrimento e as dificuldades se prolongam, a ideia do filme mantém Tim confiante. E, pouco a pouco, Olivia vai lutando pela recuperação de um pouco das suas vidas.
História de uma família afectada pela crise, escusado será dizer que o que primeiro marca nesta leitura é a relevância do tema. E marca principalmente porque, sendo embora um livro pensado para os mais novos, nunca perde de vista as questões importantes, apelando à reflexão. Isto torna-o interessante para leitores de todas as idades e se, aos olhos de um leitor adulto a evolução das coisas pode parecer um pouco apressada, a verdade é que o essencial - nos temas e no percurso das personagens - está lá.
Ao contar a história maioritariamente da perspectiva de Olivia, a autora consegue também conferir às coisas um matiz diferente. A situação com os bancos é particularmente marcante, pois a inocência de Olivia põe em evidência o extremo mais rídiculo da coisa: a mãe de Olivia perdeu a casa, os móveis, basicamente tudo... e continua com dívidas ao banco. É também um reflexo particularmente eficaz do impacto humano da crise, pois Olivia não só tem de deixar toda a sua vida para trás, mas tem também de se adaptar a toda uma outra série de dificuldades que vão da vida num prédio ilegalmente ocupado (mas onde há mais solidariedade do que na sua antiga vida) à depressão da mãe e à possibilidade de serem levados para um orfanato.
E há ainda um último aspecto a sobressair: é que apesar das dificuldades e sofrimento que abundam ao longo desta história, a autora consegue manter um registo leve e optimista, em parte devido à inocência e ao engenho de Olivia, mas também à mensagem positiva que sobressai de todo o percurso. A solidariedade existe - às vezes onde menos se espera - e, mesmo com todos os obstáculos que o mundo parece criar, nenhuma queda é realmente irreversível.
Cativante, criativo e, acima de tudo, muito pertinente, trata-se, pois, de um livro capaz de prender leitores de todas as idades. Uma história de superação, comovente e divertida, que fica na memória bem depois de terminada a leitura.

Autora: Maite Carranza
Origem: Recebido para crítica

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