Stella Widstrand tem uma vida equilibrada, um casamento feliz e um filho que é tudo o que alguma vez desejou. Mas carrega aos ombros um fantasma que nunca desapareceu. Há vinte anos, a sua filha bebé desapareceu e nunca ninguém conseguiu descobrir o que se passara. Agora, esse fantasma está prestes a regressar. No dia em que Isabelle entra no seu consultório, Stella reconhece-a imediatamente. Mas o que se passa? Porque está ela ali? Saberá Isabelle quem é? E o que pode ela fazer para repor a verdade? Uma coisa é certa, Stella não duvida de que Isabelle é a sua filha desaparecida. Mas como explicar isso àqueles que a julgam louca?
Alternando entre diferentes pontos de vista e prolongando o mistério através de uma sucessão de revelações impressionantes, é na capacidade de conduzir o leitor através de sucessivas possibilidades e alternativas que está a grande força deste livro. Inicialmente, o encontro entre Stella e Isabelle parece prenunciar um confronto de aversões. Depois, a história vai ganhando novos contornos, com a percepção de que o que as duas realmente sabem não é tão linear como parece. E, ao oscilar entre a vida cada vez mais caótica de Stella, a tentativa de libertação e auto-descoberta de Isabelle e o crescente descontrolo dos planos de Kerstin, a autora cria uma teia de mistérios que cresce em intensidade a cada novo capítulo, para culminar depois num final avassalador.
Basta a premissa da história para gerar emoções fortes. A posição de Stella é, provavelmente, o maior pesadelo de qualquer mãe. Mas a cadeia de revelações abre espaço também a grandes desenvolvimentos emocionais, devidos não só ao crescimento das personagens ao longo da história, mas à tensão resultante da descoberta da verdade. Há, aliás, espaço para um pouco de tudo, do crescimento de um amor jovem à deterioração de uma relação através da mentira e da suspeita, e este desenvolvimento particular de cada uma das protagonistas vem acrescentar ainda mais complexidade e intensidade à história principal que as liga a todas.
E há ainda um outro aspecto a contribuir em muito para esta intensidade viciante. Ao contar a história na primeira pessoa, dando voz a cada uma das suas personagens e retratando com precisão o que lhes vai na cabeça - sejam planos precisos ou interpretações perturbadas -, a autora cria um grau de proximidade muito mais intenso, o que é particularmente notável tendo o papel de Kerstin em toda a história. Além disso, tendo em conta que grande parte do enredo gira em torno de uma possível loucura de Stella, entrar nos seus pensamentos torna mais palpáveis as suas emoções: as certezas, as dúvidas, a determinação e a impotência.
História de um mistério antigo, mas também das emoções da perda e do reencontro, trata-se, pois, de um livro repleto de tensão, intriga e emoção, em que as personagens ganham vida e complexidade para depois surpreenderem a cada novo desenvolvimento. Intenso, surpreendente e absurdamente viciante, um livro que não posso deixar de recomendar.
Título: Diz-me que És Minha
Autora: Elisabeth Norebäck
Origem: Recebido para crítica
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