São seis amigas e, cada uma à sua maneira, parecem ter as suas vidas mais ou menos controladas. Mas a despedida de solteira de uma delas vai deitar tudo a perder. Maggie Trueheart, a noiva, acorda na manhã seguinte deitada ao lado de um homem que não é o seu noivo. Angie, uma das suas amigas, é encontrada morta no bosque no dia seguinte. E, tendo todas elas um ou outro segredo que pretendem esconder, só uma coisa têm em comum: não podem contar tudo aos polícias que estão a investigar o homicídio. Só que a verdade vem sempre ao de cima, não é? E os pequenos grandes segredos podem muito bem mudar as suas vidas para sempre...
Um dos primeiros aspectos a sobressair neste livro é que tem um ritmo bastante invulgar para o género. Ao acompanhar múltiplas personagens, intercalando o mistério central com as relações e dilemas pessoais de cada uma delas, a autora confere à narrativa um ritmo que começa por ser bastante pausado. Há, ainda assim, um contrapartida para este arranque um pouco mais lento. É que, quando as coisas começam a ganhar intensidade - e começam, realmente - as personagens são já muito familiares, o que gera um envolvimento e um interesse muito maior no que lhes poderá acontecer. Mesmo àquelas que, à partida, não despertam grande empatia.
Esta diversidade de perspectivas faz sentido também num outro aspecto. É que, embora haja um caso central para resolver, existem também os muitos segredos que as personagens guardam. E há, na forma como tudo termina, um impacto tão grande para a revelação do responsável pela morte de Angie como para que o acontece depois às vidas das restantes personagens. Tê-las acompanhado do início tem, pois, uma outra importância, pois faz com que também essas conclusões secundárias acabem por ter mais impacto.
Quanto ao mistério propriamente dito, destacam-se duas coisas. Primeiro, o facto de não ser nada fácil identificar os verdadeiros responsáveis, não só porque todas as personagens guardam segredos suspeitos, mas também pelo papel que os culpados têm ao longo da história. E segundo, o facto de, tal como os suspeitos e envolvidos, também os detectives responsáveis pela investigação terem as suas imperfeições. Nem sempre é fácil gostar deles, principalmente de Ron, mas o emergir das suas vulnerabilidades humaniza-os. Além, claro, de fazer com que se enquadrem melhor nesta história onde não existem soluções limpas e perfeitas.
Não é propriamente uma leitura compulsiva, mas, com a sua teia de segredos e o seu crescendo de intensidade, vai-se entranhando na memória e prendendo cada vez mais. Deixando, no fim, a muito agradável impressão de ter mergulhado num mistério onde as surpresas são muito mais - e melhores - do que a mera revelação de quem fez o quê.
Título: Ontem à Noite
Autora: Catherine O'Connell
Origem: Recebido para crítica
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