terça-feira, 2 de fevereiro de 2021

O Castelo dos Animais, Vol. 2: As Margaridas do Inverno (Xavier Dorison e Félix Delep)

O Inverno abateu-se sobre o castelo dos animais. E agora, além do trabalho que sempre tiveram de fazer, todos os animais têm de sacrificar uma hora de trabalho por dia a transportar lenha que depois têm de pagar. Isto se se quiserem aquecer. Mas há quem não esteja de acordo com as injustiças do presidente Sílvio e o que começou por ser uma luta solitária por parte de Miss Bengalore e do seu improvável aliado César começa agora a conquistar novos aliados. Contra a violência dos cães, pretendem agir com outro tipo de resistência. E implica sofrimento, mas, se conseguirem aguentar, todos sentirão as consequências. E algo terá de mudar...
Um dos aspectos mais impressionantes deste livro - à semelhança, naturalmente, do volume anterior - é a forma como transpõe para uma história de animais lutas que são, afinal, profundamente humanas. A luta pelos direitos essenciais protagonizada pelos animais do Castelo reflecte muitas questões pertinentes das lutas que se travaram - e continuam a travar - em diferentes partes do mundo. Além disso, é fácil reconhecer paralelismos com o mais que célebre O Triunfo dos Porcos/A Quinta dos Animais de George Orwell, mas complementados com uma identidade própria que faz com que a história destes livros seja ao mesmo tempo singular e única.
Outro aspecto particularmente marcante é a arte, não só nos vastos cenários e no equilíbrio entre movimento e inércia (que reflecte com uma precisão poderosa o contraste entre o lado da violência e o da resistência pacífica), mas sobretudo numa expressividade surpreendentemente intensa tendo em conta que as personagens são animais. Miss Bengalore, sobretudo, reflecte nos seus traços todo um vasto leque de emoções, o que, mais uma vez, realça o lado humano da história, além de gerar também uma maior empatia.
Em termos de desenvolvimento, escusado será dizer que, sendo apenas o segundo volume, há muito que fica em aberto, mas sobressaem dois aspectos. Primeiro, que, tal como no primeiro volume, este livro parece iniciar e encerrar uma fase de uma luta maior, o que significa que abre com um novo desenvolvimento e culmina com um fim que não é definitivo, mas que resolve essa dase do percurso. Segundo, que é tão grande a curiosidade que fica para o que se seguirá como a intensidade que caracteriza toda esta fase do percurso. E momentos intensos são coisa que não falta ao longo deste caminho.
Intensidade e beleza, emoção e proximidade. São estas as características essenciais desta segunda etapa de uma história que, além de surpreender pela humanidade, cativa da primeira à última página e fica na memória bem depois do fim. Mal posso esperar pelo terceiro volume desta fascinante - e visualmente belíssima - aventura.

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