quarta-feira, 17 de fevereiro de 2021

O Que Contamos ao Vento (Laura Imai Messina)

Após o tsunami de 2011, que lhe levou a mãe e a filha, Yui continuou a viver, mas com a vida e o coração desfeitos. O luto apoderou-se da sua vida de formas que nem ela consegue descrever. Mas tudo muda quando um dos seus ouvintes, ao ligar para o seu programa, lhe fala sobre o Telefone do Vento, uma cabine telefónica situada num belo jardim e onde as pessoas vão para falar com os seus mortos. Sem nada a perder, Yui decide fazer a viagem. Não sabe que, para lá dos receios iniciais, encontrará o refúgio possível, muitas vidas como a sua e talvez um coração capaz de reanimar o seu.
Um dos principais aspectos a destacar sobre esta leitura é que, tendo em conta o peso do tema, é surpreendentemente leve. Talvez isto se deva, em parte, aos capítulos curtos, que parecem reflectir as perceções e reflexões dos protagonistas, e em parte também devido à forma quase impressionista como a história é traçada - a partir de momentos, impressões, memórias que se perpetuam e até objectos com um significado especial. O que é certo é que, de impressão em impressão, a história vai-se moldando com uma naturalidade quase inefável, insinuando-se aos poucos no pensamento e acabando por abrir discretamente caminho até ao coração.
Tendo em conta esta forma de contar a história, não é propriamente uma surpresa que fiquem algumas questões em aberto, sobretudo sobre as várias personagens que se vão cruzando com Yui e Takeshi. Mas a verdade é que também isto faz sentido, além de ser um reflexo mais que adequado da vida e da fugacidade das relações. E, sendo certo que estas múltiplas passagens parecem, a espaços, um pouco breves, também é verdade que nada lhes falta em termos de percurso essencial.
Ainda um outro aspecto que não surpreende, mas que surge de forma particularmente brilhante, é o peso emocional de toda a história - e o seu contraste com a leveza que parece também nunca cessar. Trata-se de uma história de luto e de perda - e também de memória e de reconstrução. A emoção está, por isso, sempre à espreita e faz com que seja impossível não querer que tudo corra bem para estas personagens a quem já tanto foi tirado. Se corre? Bem... para isso, é preciso ler.
Surpreendentemente leve, mas repleto de momentos de beleza, eis, pois, um livro aparentemente simples, mas que, além de transbordante de emoção, é uma lembrança perfeita do que realmente importa. Cativante e descontraída quanto baste, mas cheia de nostalgia, sentimento e amor, uma história feita de momentos. E que, como eles, perdura.

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