A mulher acorda... e o mundo que vê entrelaça-se entre futuros e passados de uma mente quase labiríntica. Parte numa viagem à mente para descobrir a solidão e encontra-se, transforma-se... a si e ao que contempla. E é a história dessa mulher, nos seus improváveis contornos, que molda a forma desta poesia.
Geralmente, ao ler um livro de poesia, espera-se uma certa medida de coesão, havendo também, contudo, uma certa independência entre os poemas. Neste caso, essa coesão é mais profunda e indivisível, pois não só existe uma protagonista definida, como também uma certa linha sequencial, o que implica um todo mais vasto, maior do que a soma das partes, e que gera um impacto global maior do que o de qualquer leitura parcial.
É um livro de poesia, mas que parece ter uma história para contar, ainda que de forma muito singular. E isso significa ecos e repetições na forma, ideias que se vão multiplicando ao longo do livro. Por outro lado, as imagens evocadas vão do contemplativo ao quotidiano, evocando uma espécie de espiritualidade peculiar enraizada na solidão em pleno mundo material. Ora, esta conjugação suscita um certo desconcerto, mas que faz também um estranho sentido.
Há também como que uma reflexão subjacente, mas impossíveis de descrever, pois surge mais de impressões do que pensamentos elaborados. Também isto tem um efeito desconcertante, pois o despertar da mulher é também uma viagem em comunhão com o leitor. Mas também esta perplexidade dá lugar a momentos de fascínio.
História em forma de poema, ou poema esculpido em história, trata-se, em suma, de um livro singular, mistura de contemplação e de realidade, de ritmos e de impressões indescritíveis, enigmático, mas muito cativante. Uma forma especial de vida, digamos assim.
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