quinta-feira, 27 de outubro de 2011

O Messias de Duna (Frank Herbert)

Passaram doze anos. Paul Atreides é agora o Imperador e a figura que muitos veneram já como algo similar a um deus. A sua ascensão foi o início de uma Jihad que foi - e continua a ser - razão e impulso para a morte de milhões. Mas, por mais que Paul queira quebrar a sua associação à imensa guerra de que é a imagem essencial, é tarde demais. E as suas múltiplas visões do futuro mostram-lhe que não há alternativas que não venham acompanhadas de terríveis consequências. Está nas suas mãos, pois, escolher o tortuoso caminho que levará ao mal menor. Mas há inimigos que conspiram nas sombras. E as consequências para cada escolha serão devastadoras.
Mais curto que Duna, mais de ritmo mais pausado e cariz um pouco mais introspectivo, este é um livro em que as grandes acções dão lugar a uma necessidade de escolhas mais pessoais. É, desde as primeiras páginas, evidente que tudo mudou e, tal como no livro anterior, é claríssima a atenção à forma como o sistema evolui - nos bons aspectos e nos maus. Há, também, uma visão mais completa ao alternar entre os passos de Paul e a evolução dos planos dos seus inimigos, contribuindo isto para uma sensação de inevitabilidade que se torna mais intensa com o evoluir da narrativa e que culmina num final emocionalmente devastador.
Apesar dos pormenores da conspiração e do desenvolvimento das mudanças operadas sobre o Império, o que mais marca deste livro é a evolução e o dilema pessoal de Paul. Há, ao longo de todo o texto, uma presença de dúvidas, necessidades de escolha e aquela inevitável revolta contra um destino inexorável que lembram que, apesar de Imperador e figura (quase) sagrada, Paul Atreides é, ainda e sempre, humano e, como tal, capaz de amor, de amizade... e de sofrimento. É, por isso, o seu tormento interior, a sua necessidade de sacrificar o que mais ama, de renunciar ao que mais valoriza, de resistir à tentação em nome de um bem maior, que mais marca neste livro onde o mundo é essencial, mas o protagonista é a máxima força.
Haveria, talvez, muito mais a dizer sobre este livro, mas, mais uma vez, faltam-me as palavras para expressar por completo o impacto emocional deixado por esta leitura. Fica, pois, na memória esta história de escolhas e sacrifícios, de poder relutante e de nobreza traída. A visão, num mundo tão diferente, mas tão estranhamente próximo, de uma figura à altura de valores maiores que qualquer relação pessoal ou até que a preservação da própria existência. Marcante, belíssimo e comovente... uma obra soberba.

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