Quando nasceu, o astrólogo que lhe traçou o horóscopo disse que seria rainha. Mas Lakshmi Bai seria muito mais que isso. Contra a acção cada vez mais dura da Companhia das Índias Orientais, a jovem rapariga cresceria para se tornar rainha, guerreira e mãe. E para defender os seus, mesmo se as hipóteses fossem escassas. Esta é a história da rani de Jhansi, guerreira e resistente. E, acima de tudo, mulher num mundo que, relutante em receber a sua coragem, não poderia deixar de a admirar.
Uma das coisas que sempre cativam nos livros desta autora, e neste em particular, é a forma como personagens, acontecimentos e até emoções se tornam tão nítidos e próximos. Não se pode dizer que a escrita seja especialmente elaborada, mas a autora constrói um equilíbrio muito próprio entre momentos de quase simplicidade e outros de surpreendente poesia. Cria-se assim, desde logo, uma envolvência que atrai para a história que está a ser contada.
Outro aspecto que sobressai e a caracterização das personagens, com destaque, naturalmente, para a protagonista, mas também para os que a rodeiam. Lakshmi Bai, como a autora apresenta, é uma mulher completa e complexa, com uma personalidade carismática e grande profundidade emocional. Nota-se, aliás, o cuidado em mostrar tanto a rainha como a mulher, revelando igualmente as forças e as vulnerabilidades. O resultado é uma personagem que facilmente se torna próxima, que cativa e surpreende. E que, por isso, fica na memória.
Esta proximidade resulta também da interacção com as restantes personagens e das relações estabelecidas. Quer no que toca à gestão do conflito, no seu papel de rainha, quer nas relações familiares, enquanto filha, esposa, amiga e mãe, a história da protagonista - e os seus gestos, escolhas e tribulações - vivem de quem é e do que descobre nos outros. Acompanhar o seu percurso é seguir tanto a sua luta pela liberdade como a jornada de um crescimento pessoal. E é fácil, muito fácil entrar na sua pele e compreender as suas decisões.
E, claro, importa ainda referir o contexto histórico. Neste aspecto, sobressai também o equilíbrio, na forma como a autora apresenta toda a informação essencial, quer do conflito, quer de como certos aspectos dele eram contemplados pelo mundo exterior, sem que nada se perca da intensidade do enredo. A informação é apresentada na medida em que é necessária à compreensão do enredo, sem deixar nada de fora, mas sem elaborações excessivas, o que também contribui em muito para a envolvência da narrativa.
Muito interessante a nível de contexto, A Rainha dos Sipaios apresenta uma protagonista complexa e carismática e um conjunto de personagens e momentos marcantes, como base para uma história sempre envolvente e muitíssimo bem escrita. É, por isso, um livro que fica na memória. E que recomendo, claro.
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