Alana e Marko pertencem a lados opostos de uma guerra interplanetária, mas quando se conheceram, ela enquanto guarda, ele enquanto prisioneiro, tudo isso deixou de importar. Agora, fugidos do seu próprio povo, acabam de trazer ao mundo uma criança. O amor que sentem pela pequena Hazel pode muito bem ser a única luz numa vida de fuga constante, mas a existência da bebé despertou também o interesse das duas facções em conflito. A perseguição torna-se, pois, ainda mais dura. E, para sobreviverem, talvez precisem de alguma ajuda... peculiar.
Parte do que torna este livro tão impressionante - e, oh, se é impressionante - é a facilidade com que gera um envolvimento emocional quase imediato. Talvez devido à cena inicial, talvez devido à premissa que serve de base a esta história, com o amor entre inimigos a gerar uma nova vida, o que é certo é que há uma empatia praticamente imediata a surgir. Além disso, os sentimentos vão-se intensificando com o evoluir dos acontecimentos, pois entre as fugas, as lutas e as descobertas mais ou menos delicadas, há sempre laços de afecto profundo e momentos poderosos a realçar a força dos laços emocionais.
Também particularmente notável é a teia de relações e possibilidades que surge deste que é apenas o primeiro volume de uma série bastante mais vasta. A linha central está no percurso de Marko e Alana, naturalmente, mas há outros elementos, desde os actos de A Vontade à delicada hierarquia da família do príncipe Robot IV. E, claro, todas estas possibilidades ganham outro impacto pela vastíssima diversidade que parece povoar este universo, pois, sendo uma história intergaláctica, é apenas natural que cada ser tenha características distintas. Características essas que, importa dizer, ganham vida nas páginas com uma estranha e fascinante beleza.
Há ainda um outro delicado equilíbrio a sobressair, algo que pode inicialmente parecer secundário, mas que contribui em muito para o impacto emocional do todo. Além dos momentos de afecto, das cenas de combate e do vincado contraste entre os cenários e habitantes dos diferentes locais, há também vários deliciosos rasgos de humor, que, além de acrescentarem leveza, fazem com que os picos de intensidade seguintes ganhem ainda mais força. E mais. Há o contraste entre este mundo tão diferente, onde todos os seres têm algo de peculiar, e as várias questões relevantes que facilmente se reconhecem como vindas do nosso mundo real. A guerra, com tudo o que tem de questionável; o aproveitamento e escravização dos mais fracos; a transformação do incontrolável em alvo a abater. Tudo isto pode ser transposto - salvo as devidas diferenças - para a nossa realidade, o que faz com que esta história contenha também muito material para reflexão.
Absurdamente viciante, profundamente emotivo e belíssimo em todos os aspectos, das feições e expressividade das personagens à construção dos cenários, passando, naturalmente, pelos brilhantes rasgos de emoção e afecto, trata-se, pois, de um livro imperdível para todos os que gostam de banda desenhada, ficção científica ou simplesmente de uma bela e marcante história. Intenso, fascinante, maravilhoso, um livro - e uma série - a não perder.
Título: Saga - Volume Um
Autores: Brian K. Vaughan e Fiona Staples
Origem: Recebido para crítica
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