Num mundo em que o que separa Bruxos Brancos e Bruxos Negros é uma guerra mortal, a existência de Nathan é, por si só, perigosa. Filho de uma dotada Bruxa Branca e do mais temível entre os Bruxos Negros, ninguém sabe ao certo de que lado reside o seu futuro. Mas o Conselho dos Bruxos Brancos não está disposto a deixar nada ao acaso. Controlado em todos os aspectos desde a mais tenra idade, Nathan atravessa sucessivas provações, que culminam no confinamento a uma jaula, sob a égide de uma tutora cujo treino severo o deve preparar. Para quê, Nathan não sabe. Mas, à medida que os seus dezassete anos se aproximam, e que o interesse do Conselho parece crescer, Nathan sabe que não pode ficar simplesmente à espera. É que, por muito que digam o contrário, o Conselho dos Bruxos Brancos não é, propriamente, um lugar de bondade. E tudo indica que têm grandes planos para Nathan.
O primeiro aspecto a surpreender neste livro, e principalmente tendo em conta a aparentemente clara divisão entre Bruxos Brancos e Bruxos Negros, é que a linha que separa o bem do mal é tudo menos clara. Na verdade, no que à bondade diz respeito, às escolhas certas, à necessidade de agir segundo valores e princípios correctos, ambiguidade é o que não falta neste livro. Ora, para um sistema com separações (aparentemente) absolutas, esta perspectiva de moralidades dúbias - de ambos os lados - torna as coisas consideravelmente mais interessantes. Até porque, mais do que simplesmente questionar linhas definidas entre bem e mal, a autora leva o assunto mais longe, ao colocar os Bruxos Brancos a agir de tal forma que a empatia chega a pender substancialmente para o outro lado, mesmo tendo em conta que nada nos Bruxos Negros é inocente.
No centro de tudo isto, está Nathan, grande força de uma história toda ela muito interessante. Criado nas mãos dos Bruxos Brancos - e, contudo, firmemente posicionado na linha que separa os dois lados - Nathan é a base de toda uma reflexão sobre a diferença, sob a forma de todas as tribulações e humilhações que tem que atravessar. Tudo nas suas circunstâncias gera empatia, sendo que a fase inicial é de uma intensidade seriamente perturbadora. Além disso, toda a história é narrada na primeira pessoa, o que, ao criar uma maior impressão de proximidade, confere a todos os acontecimentos - mais ou menos relevantes - um maior impacto.
Ainda no que toca à caracterização, sobressai um outro aspecto da natureza de Nathan. É que, num cenário em que quase todos se movem por interesses, seus ou dos que os comandam, a inocência de Nathan funciona quase como uma luz no meio do caos. E por isso, ainda que a sua perspectiva das restantes personagens seja limitada, há nele uma capacidade de ver os melhores traços dentro do cenário possível, que, numa história tão sombria, acaba por ser algo de especial.
Sendo este o primeiro volume de uma trilogia, ficam, naturalmente, várias perguntas sem resposta, o que, associado ao ritmo quase compulsivo do enredo e ao impacto emocional dos momentos mais intensos, cria grandes expectativas para o que se seguirá. Quanto às muitas respostas que já foram dadas, abrem-se vastas possibilidades para o futuro de Nathan, cujas aventuras e tribulações, ainda que já cruzadas por grandes sombras, parecem estar ainda a começar.
A soma de tudo isto é uma história envolvente e surpreendente, fortíssima do ponto de vista emocional e com uma aproximação muito própria à fina linha que separa o bem do mal. Um livro intenso e viciante. Muito bom.
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